Por Anna Flávia Rochas e Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - O governo federal estuda medidas para economia de energia no Brasil para serem lançadas daqui a 60 a 90 dias, quando acaba o período úmido, disse o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, nesta sexta-feira, na primeira admissão oficial de que há necessidade de redução da demanda por eletricidade do país.
"Nós vamos lançar um programa de eficiência energética que com certeza vai ter um impacto muito positivo (na redução da demanda). Estamos trabalhando nisso e esperamos que nos próximos 60 a 90 dias possamos ter um conjunto de ações nesse sentido", disse o ministro, a jornalistas.
"Já estão ocorrendo reuniões entre ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e membros do ministério para fazermos avaliações de algumas ações que estamos muito próximos de poder anunciar e que estamos planejando e discutindo com o setor já há alguns dias", acrescentou.
Segundo Braga, as medidas valerão para todos. "Nós estamos analisando não um incentivo fiscal, mas acho que nós temos que estabelecer alguma forma de premiar a eficiência energética e estamos analisando de que forma vamos estabelecer nesse programa um prêmio para eficiência energética", disse.
Segundo uma outra fonte do governo federal, uma das medidas a serem lançadas seria uma campanha de rádio e televisão estimulando a economia voluntária de energia elétrica pela população.
O ministro Braga e o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, já haviam dito mais cedo nesta sexta-feira, após se reunirem, que o setor elétrico enfrenta desafios e está dependente de chuvas a partir de fevereiro para que sejam definidas diretrizes de operação futuras.
As declarações ocorreram após o ONS divulgar previsões desanimadoras para as chuvas que devem atingir as represas da hidrelétricas no mês que vem, com afluências muito abaixo das médias históricas para o mês na maioria das regiões do Brasil.
"Tem que esperar fevereiro, que é um dos meses que mais chove, vamos aguardar, embora não haja nenhuma mudança radical (no cenário) de chuvas", disse Chipp, a jornalistas, após sair de reunião do conselho do ONS nesta sexta-feira.
Ele lembrou que foi a partir de fevereiro do ano passado, especialmente nos meses de março e abril, que as chuvas se intensificaram.
"O cenário é desafiador porque a gente precisa de chuva e chuva ninguém consegue prever com mais de 10 dias pra frente. Então temos que esperar e aguardar... É um desafio mesmo, não tem mais margem de manobra, talvez uma medida ou outra, o grande vilão agora é a chuva mesmo".
Braga disse que o cenário de fornecimento de eletricidade ao país é desafiador nos horários de pico de consumo, mas que o governo federal está trabalhando para continuar garantindo o abastecimento. "Energia nós temos, o nosso problema é quando acontecem os picos de demanda. Mas temos, de qualquer forma, crise hidrológica em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que também afeta o setor elétrico", disse ele.
Segundo o ministro, há cerca de 5 mil megawatts adicionais no sistema disponíveis para reforçar o atendimento. Ele mencinou ainda que outras medidas ainda podem ser tomadas para reforçar o fornecimento de energia no país, como importar mais energia da Argentina e ligar a termelétrica Uruguaiana. Braga disse também que o segundo circuito do sistema de transmissão das hidrelétricas do rio Madeira, que poderá trazer energia dessas usinas para o Sudeste do país, está em fase de conclusão.
Especialistas do setor já afirmavam que o governo deveria iniciar abertamente uma campanha para redução do consumo de energia elétrica no país, dada as condições de níveis baixos recordes dos reservatórios das hidrelétricas.
Em 19 de janeiro, o ONS teve que realizar um corte no fornecimento de energia em pelo menos 10 Estados mais o Distrito Federal, depois de um momento de pico no consumo de carga no Sudeste e diante de restrições na transferência de energia do Norte/Nordeste para essa região.
ESTIMATIVAS PARA FEVEREIRO
O ONS informou logo no início desta sexta-feira, por meio de relatório, que as chuvas em fevereiro que deverão chegar aos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste do país para geração de energia elétrica serão equivalentes a 52 por cento da média histórica para o mês.
O cenário é melhor que o verificado em janeiro, quando choveu cerca de 39 por cento da média num mês em que tradicionalmente já chove menos que fevereiro.
Ainda assim, a projeção inicial para as chuvas em fevereiro dá mais um sinal de que os reservatórios das hidrelétricas no Sudeste, que também vive crise de abastecimento de água, não deverão conseguir se recuperar aos níveis já baixos verificados ao final do período úmido passado -- ou mesmo do verificado na mesma época do ano do racionamento de energia, em 2001.
Em abril de 2001, o nível das represas do Sudeste estavam em 32,18 por cento ao final do período chuvoso, enquanto no mesmo período de 2014, quando a situação também era vista como crítica, as represas dessa região fecharam com nível de 38,77 por cento.
RACIONAMENTO?
O risco de racionamento neste ano já ultrapassa os 55 por cento para as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, segundo o diretor da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso. Esse indicador é bastante dinâmico e pode variar bastante em função do comportamento das chuvas e outros fatores.
O Sudeste concentra cerca de 70 por cento dos reservatórios de hidrelétricas para o abastecimento do país e também é a maior região consumidora de energia.
O ONS estima que o nível das represas do Sudeste terminarão fevereiro em cerca de 20 por cento de armazenamento de água, numa leve recuperação ante os 16,82 por cento observados atualmente. A região Nordeste, com reservatórios em pior situação, a 16,63 por cento atualmente, deve fechar o mês em 14,8 por cento.
As atuais condições climáticas e hidrometereológicas no Sudeste/Centro Oeste e Nordeste ainda não caracterizam o efetivo estabelecimento do período úmido, segundo o ONS.
Durante janeiro também foram verificadas temperaturas muito acima da média na região Sudeste, o que elevou o consumo de energia em momentos de pico, por maior uso de equipamentos de refrigeração.
Para fevereiro, a previsão de consumo de carga de energia é de queda de 0,7 por cento no país sobre o mesmo período do ano passado.
(Reportagem adicional de Leonardo Goy, em Brasília)