BRASÍLIA (Reuters) - O senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) teria tentado organizar uma forma de impedir que as investigações da operação Lava Jato avançassem em parceira com o presidente Michel Temer e o ex-ministro da Justiça e atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, conforme trecho do pedido de abertura de inquérito contra o tucano e o peemedebista feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Segundo Janot, citando a atuação de Aécio, a forma para brecar o prosseguimento das apurações seria por meio "escolha de delegados que conduziriam os inquéritos, direcionando as distribuições". Contudo, o tucano, conforme despacho do procurador-geral, disse que isso não teria sido "finalizado" entre ele, Temer e Moraes.
Em uma das conversas, transcrita no pedido de abertura de inquérito por Janot, Aécio disse: "O que vai acontecer agora, vai vir inquérito sobre uma porrada de gente... eles não notaram o cara que vai distribuir os inquéritos para os delegados, você tem lá, sei lá, 2 mil delegados na Polícia Federal, aí tem que escolher dez caras. O do Moreira (Franco), o que interessa a ele, sei lá, vai pro João, o do Aécio vai pro Zé... nem isso conseguiram terminar, eu, o Alexandre e o Michel", disse.
Aécio se licenciou da presidência do partido na quinta-feira e foi afastado de suas funções de senador por decisão do ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato no STF. Apesar da citação a Moraes, não há qualquer pedido de abertura de investigação ou outro procedimento referente ao atual ministro do STF. Temer e Aécio estão sob investigação.
O PSDB afirmou, em nota divulgada no site do PSDB, que não existe qualquer ato do senador, como parlamentar ou presidente da legenda, que possa ter colocado qualquer empecilho aos avanços da Lava Jato.
"O senador Aécio Neves jamais agiu ou conversou com quem quer que seja no sentido de criar qualquer tipo de empecilho à Operação Lava Jato ou à Polícia Federal, que sempre teve seu trabalho e autonomia apoiados pelo senador em suas agendas legislativas, e também como dirigente partidário", diz a nota.
O ministro Alexandre de Moraes não se manifestou e o presidente Temer disse em nota que não tem envolvimento em nenhum tipo de crime.
(Por Ricardo Brito)