BRASÍLIA (Reuters) - A decisão do PSB de fechar questão contra a reforma da Previdência fragiliza o governo na tarefa de buscar apoio à proposta, avaliaram parlamentares nesta terça-feira, incluindo o relator da proposta, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) e o vice-líder do DEM na Câmara, deputado Onyx Lorenzoni (RS).
"Óbvio", disse Oliveira Maia a jornalistas, quando perguntado se a decisão atrapalha. "Se está precisando de 308 votos para aprovar, cada um que diz que não vota, é um voto a menos", acrescentou.
"Mas eu espero que possamos construir um pacto político capaz de aprovar o projeto", acrescentou o relator, que tem participado do esforço do governo para garantir os votos necessários para a aprovação da reforma.
Lorenzoni, no entanto, foi mais pessimista: "O governo não tem os votos para aprovar a reforma da Previdência."
Apesar de compor a base aliada, Lorenzoni avaliou que houve falha de comunicação por parte do Executivo na divulgação da reforma e que os parlamentares continuam pressionados nas ruas para se posicionar contra a proposta que endurece o acesso à aposentadoria.
A pressão pode aumentar. Uma greve geral está marcada para sexta-feira contra as reformas da Previdência e trabalhista.
O deputado Julio Delgado (PSB-MG) disse que deputados de outros partidos avaliaram que o fato do PSB ter fechado questão contra a reforma, mas ter continuado à frente do Ministério de Minas e Energia com Fernando Coelho Filho, acabou abrindo margem para que outros façam o mesmo, pela ausência de punição.
A decisão do governo, pelo menos por enquanto, segundo uma fonte palaciana, é manter o ministro do PSB e trabalhar com a parte da bancada socialista que diz apoiar as reformas.
O governo, que já esperava pela decisão do PSB, aposta na divisão do partido para ganhar parte de seus votos, mesmo com a decisão da Executiva Nacional de fechar questão contra a proposta.
Uma fonte do PSB, que pediu anonimato, entende que a decisão da legenda de fechar questão contrária às reformas da Previdência e trabalhista não deve ser revista, apesar de haver movimentos dentro do partido neste sentido.
"A revisão me parece impossível", disse a fonte, explicando que seria possível recorrer ao Diretório Nacional. "Mas não há uma reunião prevista para o Diretório Nacional e depois a instância superior, final, seria um congresso do partido, que esta marcado para outubro."
Na prática, no entanto, os deputados do PSB não parecem estar unidos em torno da decisão da Executiva.
Na sessão da comissão especial da reforma trabalhista, nesta quarta-feira, foi preciso a líder da bancada intervir e liberar os parlamentares em torno de um requerimento de retirada da matéria da pauta de votação.
Na votação do texto-base da reforma, um dos deputados do PSB na comissão votou contra e outro votou a favor.
Mais cedo, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, disse que o fato de o PSB ter optado por fechar questão contra as reformas da Previdência e trabalhista não afetará outros partidos, mas reconheceu que ainda será necessário fazer um trabalho de entendimento junto à base parlamentar para as medidas propostas da reforma previdenciária.
Pode não ser simples. O líder do PHS na Câmara, deputado Diego Garcia (PR), disse acreditar que a "grande maioria" dos deputados do seu partido votará contra a proposta, mas que o fechamento de questão ainda não foi definido.
"O governo quer tratorar as votações e não é dessa forma que se constrói um texto que ganhe a compreensão da sociedade e tire as dúvidas", afirmou o líder do PHS, legenda que também compõe a base do governo e conta com sete deputados na Câmara.
Os mercados financeiros reagiram mal à decisão do PSB, com o dólar e os DIs subindo, com temores de que a reforma da Previdência possa não ser aprovada.
(Por Marcela Ayres; Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)