Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O estrago das denúncias em delações envolvendo o presidente Michel Temer e aliados colocam o Congresso Nacional e a agenda de reformas em compasso de espera, e impõem a governistas a tarefa de avaliar o cenário após o tranco e buscar estabilizar a base.
A estratégia, até segunda ordem, é de pausa para fazer um diagnóstico e buscar reorganizar as forças políticas em um momento que está favorável para a oposição partir para o embate.
O líder da Maioria, Lelo Coimbra (PMDB-ES), prevê uma semana de muitas conversas e articulações com parlamentares para buscar a retomada de um ambiente propício para as reformas.
"A minha avaliação é que precisamos estar estabilizando a base parlamentar, estabilizar a política", disse à Reuters por telefone, admitindo que as recentes denúncias envolvendo a delação "com certeza" atrasarão o calendário de reformas.
"A Câmara estava construindo uma maioria para a (reforma da) Previdência. Essa maioria ficou um pouco balançada, temos que reorganizá-la e dar informações que dêem segurança aos parlamentares", afirmou.
Nesse clima de avaliação dos impactos das denúncias dos últimos dias, o relator da reforma da Previdência, Arhtur Oliveira Maia (PPS-BA), deve se reunir no fim de semana com o líder do governo na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
"Neste fim de semana vou me reunir com o líder do governo para que possamos fazer uma avaliação e continuar esse trabalho", disse Oliveira Maia à Reuters. "Claro que depois de um susto desse é preciso que se faça uma avaliação do que aconteceu."
O partido de Oliveira Maia, o PPS, divulgou nota na quinta-feira informando sua saída do governo. O relator da Previdência, por sua vez, mantém a disposição de trabalhar pela reforma.
A votação da reforma da Previdência no plenário da Câmara ainda não havia sido marcada, mas a expectativa era que fosse votada no fim deste mês ou início de junho.
Uma fonte que acompanha as tomadas de decisão sobre votações, disse que a prioridade número um agora é buscar a estabilidade do ambiente político, para depois se falar em reforma da Previdência.
TRABALHISTA
No Senado, o clima de "fechado para balanço" também impera. O relator da reforma trabalhista nas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Assuntos Sociais (CAS) da Casa, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), mantém nesta sexta-feira posição já externada em nota divulgada na véspera: o calendário da proposta está suspenso diante do quadro.
Nesta manhã, em entrevista à rádio Jovem Pan, Ferraço foi contundente ao afirmar que o "conjunto da obra" envolvendo Temer e aliados é "muito ruim" e sinaliza que Temer pode ter prevaricado.
"Botar em risco votação num momento como esse me pareceu absolutamente inadequado, então fizemos uma suspensão do calendário para poder aguardar os desdobramentos dessa crise institucional", disse o senador à rádio.
"Fazer de conta ou dar uma de 'Monalisa' para essa coisa toda e achar que nada aconteceu, que nada está acontecendo, me pareceu, naquele momento, uma imprudência muito grande e por isso suspendemos o calendário, para poder avaliar um pouquinho o quadro com mais precisão", afirmou o relator.
Pelo calendário divulgado por Ferraço antes das primeiras notícias que abalaram a República, seu parecer seria apresentado à CAE na próxima terça-feira, com votação prevista para o dia 30. Na CAS, o senador entregaria seu relatório no dia 31, para ser votado no dia 7 de junho, de modo a permitir que a proposta fosse votada pelo plenário do Senado entre os dias 12 e 15.
Mesmo com a suspensão, a pauta da CAE mantém a realização de uma audiência pública sobre a reforma Trabalhista na terça-feira com professores universitários, como estava previsto.
Ferraço explicou que integra um segmento do PSDB que defende a saída de Temer caso a situação torne-se insustentável, mas lembra que a questão ainda não tem uma posição definitiva do partido e que o tema ainda não foi esgotado nas discussões internas.
Segundo pedido de inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Temer, o empresário da JBS (SA:JBSS3) Joesley Batista relatou pagamento de propina mensal ao ex-deputado Eduardo Cunha e recebeu anuência do presidente. O colaborador disse ainda ter ouvido do presidente que Temer poderia falar com ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sobre pleitos do grupo empresarial.
Na delação, foi relatado o pagamento de propina a Temer e ao deputado afastado Rocha Loures (PMDB-PR) em troca de afastamento do monopólio da Petrobras (SA:PETR4) no fornecimento de gás.
Outro executivo do grupo, Ricardo Saud, afirmou em delação que Temer recebeu aproximadamente 15 milhões de reais em propina.