Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O ex-senador Delcídio do Amaral, cassado neste ano após ser preso acusado de tentar obstruir a Lava Jato, disse em depoimento no âmbito de sua delação premiada que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) e aceitou a entrada do PMDB no governo para evitar o impeachment à época do mensalão.
Em depoimento cujo vídeo foi anexado nos autos do processo em que está a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra Lula nesta semana, Delcídio, que foi líder do governo da presidente Dilma Rousseff no Senado, disse que no início do primeiro mandato de Lula o PT e os partidos que se aliaram aos petistas na eleição dominavam a Petrobras e os demais cargos da administração.
"Depois do mensalão, o presidente Lula precisava estruturar uma base consistente, até em função do desgaste que todo aquele processo trouxe. Aí ele toma a decisão de trazer o PMDB e o PP... acaba indicando o Paulo Roberto Costa que vem a assumir a diretoria de Abastecimento", disse Delcídio, citando um dos ex-diretores da Petrobras que fez acordo de delação na Lava Jato.
“Quando sobreveio o mensalão, ele (Lula) percebe que ele se arruma ou ele poderia ser impichado, inclusive... Quando veio o mensalão, o Lula fez uma revisão das posições dele dizendo: 'ou eu abraço o PMDB ou eu vou morrer'. Quando aí o PMDB veio fortemente para o governo e estabeleceu tentáculos em toda a estrutura de governo, não só na Petrobras não."
Delcídio, que também já foi diretor da Petrobras, disse que Lula sabia do esquema de corrupção na estatal e que a indicação de nomes para cargos para a empresa sempre passava pelo presidente da República.
"Petrobras não tem como não passar pelo presidente da República (as indicações)... É o presidente da República que bate o martelo", garantiu.
Em nota, os advogados de Lula disseram que as declarações do ex-senador, que foi aliado de Lula e teve mandato pelo PT de Mato Grosso do Sul, não tem valor jurídicos e não muda o fato de Lula ter sido denunciado sem provas, de acordo com avaliação dos advogados.
"No lugar da observância do devido processo legal, parece vigorar a opção dos procuradores da Lava Jato pelo linchamento midiático e político, prática inaceitável à luz da Constituição Federal e dos tratados internacionais que o Brasil ratificou e se obrigou a cumprir", afirma a nota.