(Reuters) - A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira que lamenta o fato de o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter presidido a votação do pedido de impeachment contra ela na Câmara dos Deputados, no dia em que o parlamentar teve seu mandato suspenso pelo ministro do STF Teori Zavascki a pedido da Procuradoria-Geral da República.
"A única coisa que eu lamento, mas eu falo antes tarde do que nunca, é que infelizmente ele conseguiu, e vocês assistiram, ele presidindo na cara de pau o processo na Câmara, lamentável processo na Câmara", disse Dilma em discurso na cerimônia de início da operação comercial da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
A presidente voltou a acusar Cunha de ter aceitado o pedido de impedimento contra ela por vingança, depois que o governo se recusou, segundo ela, a fechar um acordo com o parlamentar para votar a favor dele em um processo no Conselho de Ética da Casa.
A defesa de Dilma têm afirmado durante toda a tramitação do processo de impeachment no Congresso que o procedimento possuí vícios por ter sido aberto por Cunha em desvio de poder, uma vez que o deputado estaria agindo em interesse próprio.
"Esse impeachment é um claro desvio de poder porque ele usa seu cargo para se vingar de nós. Se vingar de nós porque nós não nos curvamos às chantagens dele", afirmou a presidente no discurso na hidrelétrica, reiterando também que o processo é "golpista".
O advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, afirmou mais cedo nesta quinta que a suspensão do mandato de Cunha confirma a tese da defesa, e afirmou que o governo vai pedir a anulação do processo.
Cunha teve seu mandato suspenso nesta manhã, ministro relator das ações decorrentes da operação Lava Jato no Supremo, em resposta a uma ação impetrada em dezembro pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Em sua decisão, Teori afirmou que o afastamento se faz necessário para neutralizar riscos apontados pela PGR de interferência de Cunha em investigações contra ele.
Em seu discurso na cerimônia na usina de Belo Monte, Dilma também fez comparações entre o seu governo e a administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em termos de construção de linhas de transmissão de energia, afirmando que seu governo construiu muito mais quilômetros do que o tucano.
A presidente lembrou ainda que durante seu governo não houve apagão de energia elétrica, ao contrário do racionamento implementado no governo Fernando Henrique em 2001. No entanto, um dos motivos para o Brasil ter evitado uma nova crise no setor durante o governo Dilma foi a queda na atividade econômica, com o país em recessão.