Por Rodrigo Viga Gaier e Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Aos menos 33 pessoas ligadas a uma rede de doleiros que movimentaram 1,6 bilhão de dólares desde 2007 dentro e fora do Brasil foram presos nessa quinta-feira pela Polícia Federal e Ministério Público na operação para cumprir 53 mandados de prisão em vários Estados e no exterior.
Para o Ministério Público, a operação desta quinta-feira é a maior dos últimos anos na área de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
“Essa é a maior operação desde o escândalo do Banestado… é um material explosivo e temos um material bem robusto. Esperamos desdobramentos da operação de hoje”, afirmou o procurador federal Eduardo El Hage.
Os mandados de prisão estão sendo cumpridos desde cedo no Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e também no Uruguai. Agentes da polícia federal do Paraguai, também colaboram com as investigações já que um dos principais investigados, o doleiro Dario Messer (também chamado de “o doleiro dos doleiros") tem dupla cidadania, brasileira e paraguaia.
Segundo as autoridades, a chamada operação "Câmbio, Desligo" visa desarticular uma organização criminosa especializada em crimes financeiros e evasão de divisas responsável por uma complexa estrutura de lavagem de dinheiro envolvendo diversos países.
Os mandados foram solicitados pelo MPF e expedidos pelo Juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
As investigações tiveram como ponto de partida as delações de dois doleiros que atuaram para o esquema de corrupção e propina montado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Vinicius Claret, conhecido como Juca Bala, e Cláudio Barboza, o Tony, ficaram presos por 1 ano e 2 meses, e, coincidentemente foram soltos nessa quinta-feira.
As apurações revelaram que para movimentar um grande volume de recursos, cerca de 1,6 bilhão de dólares desde 2007, os doleiros precisaram criar uma rede no Brasil e no exterior para atender à demanda de quem precisava pagar ou receber propina.
Os procuradores federais envolvidos na "Câmbio, Desligo" citaram que alguns dos doleiros presos nessa quinta-feira atuaram para o ex-governador Sérgio Cabral, para empreiteiras, entre elas a Odebrecht, e para a JBS (SA:JBSS3). [nL1N1SA1AW]
“A operação abre porta para entrarmos num universo desconhecido. Entramos numa primeira camada mas há outras camadas... podem ter outros políticos, outros empresários envolvidos, exportadores, tráfico de drogas e armas. Vamos nos esforçar para chegar lá“ , disse o procurador federal Rodrigo Timóteo.
Os procuradores destacaram que até agora todas as operações da Lava Jato no Rio de Janeiro mapearam 100 milhões de dólares que pertenceriam ao ex-governador Sérgio Cabral. Mas, como o esquema descoberto na operação "Câmbio, Desligo" é da ordem de 1,6 bilhão de dólares, outros envolvidos podem ser descobertos em breve.
Os doleiros montaram uma espécie de banco informal para receber os recursos ilegais, movimentá-los e prestar contas a quem fazia uso desse sistema. O bankdrop movimentou recursos de mais de 3 mil empresas offshore que tinham contas em 52 países.
"Os doleiros tinham uma espécie de Câmara de Compensação. O Juca e O Tony juntavam a demanda de dólar no exterior e no Brasil. Mas era tanto dinheiro que eles precisavam de uma rede complexa de doleiros para movimentar dinheiro lá fora e gerar reais aqui dentro no Brasil. Eles uniam as duas pontas da corrupção“, explicou Timóteo.
”Eles tinham dois sistemas, o ST que era uma espécie de conta corrente dos clientes do esquema. Ali os envolvidos podiam ver créditos, débitos e saldo das operações financeiras. Havia ainda uma sistema de bankdrop que servia de controle para as transferências internacionais que eram feitas, como se fosse um balanço de TEDs E DOCs”, adicionou
Além das prisões, a Justiça, a pedido do MPF, determinou o bloqueio de 7,5 bilhões de reais dos envolvidos no esquema como forma de ressarcimento aos prejuízos causados.
Pela primeira vez, uma entrevista sobre uma operação da Lava Jato no Rio de Janeiro não contou com a presença da PF e não foi realizada na sede da instituição policial. Segundo procuradores, a ordem para que a coletiva não ocorresse na sede da PF veio de Brasília.
Os procuradores disseram que apesar do trabalho em sintonia com a PF acreditam que a divulgação dos dados e das operações é uma prestação de contas que todos servidores públicos deveriam fazer