Trump consegue tarifas; os norte-americanos recebem aumentos de preços
A Abipeças (Associação Brasileira da Indústria de Autopeças) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) enviaram nesta 2ª feira (28.jul.2025) uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para manifestar repúdio à possível redução das alíquotas de importação sobre veículos SKD (Semi Knocked Down) e CKD (Completely Knocked Down).
Segundo o documento, a medida enfraquece a indústria nacional e favorece fabricantes estrangeiras, em especial a chinesa BYD (SZ:002594).
A carta também foi encaminhada a outros integrantes do governo, como o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, e a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.
ENTENDA
No modelo SKD, os carros chegam parcialmente montados ao país e passam apenas por uma etapa final de montagem. Já no CKD, os veículos vêm totalmente desmontados e precisam ser inteiramente montados no Brasil.
Com isso, as empresas que utilizam esses sistemas quase nunca contratam fornecedores no Brasil e a geração de empregos é muito pequena.
O pleito para diminuição das alíquotas, que está em análise na Camex (Câmara de Comércio Exterior), foi feito pela própria BYD e pode ser votado na 4ª feira (30.jul), em reunião extraordinária do Gecex (Comitê Executivo de Gestão).
A montadora chinesa pediu ao governo a redução de imposto de importação de kits SKD e CKD, de 5% no caso dos carros elétricos e 10% no caso dos híbridos. As taxas atuais são, respectivamente, de 18% e 20%.
As entidades afirmam que a medida criaria uma “concorrência inusitada” com os veículos produzidos no Brasil e configuraria uma “renúncia fiscal injustificada”, além de provocar efeitos em cadeia.
“A combinação nefasta desses fatores irá, inquestionavelmente, provocar queda de produção e perda de empregos para a indústria brasileira de autopeças, além de inevitável revisão dos investimentos anunciados por montadoras e por nosso setor”, diz trecho da carta.
Segundo as associações, as importações de veículos asiáticos aumentaram cerca de 190% em 2024 e continuam em trajetória de alta, favorecidas por uma recomposição gradual das alíquotas.
O documento também afirma que a eventual concessão do benefício contradiz programas do próprio governo Lula que visam estimular a competitividade da indústria nacional, como o Mover (Mobilidade Verde e Inovação).
As entidades pedem que Lula barre o pedido e alertam para o risco de a decisão abrir caminho para novos pleitos semelhantes por outras montadoras.
BENEFÍCIO À BYD
A principal beneficiada pela medida seria a montadora chinesa BYD, que investe em uma planta em Camaçari (BA), Estado onde Rui Costa (PT), atual ministro da Casa Civil e ex-governador, fez carreira política.
A coordenação da proposta é feita pelo próprio Rui a pedido do Palácio do Planalto, o que tem causado desconforto no setor automotivo.
Procurada pelo Poder360, a BYD não respondeu até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
APOIO DE GRANDES MONTADORAS
A carta enviada pela cadeia de fornecedores reforça preocupações já apresentadas pelas 4 principais montadoras instaladas no Brasil. Em 15 de junho, os presidentes de Volkswagen (ETR:VOWG), Toyota, Stellantis (NYSE:STLA) e General Motors (NYSE:GM) também se posicionaram contra a medida em carta conjunta a Lula.
No texto, eles citam uma possível revisão de pelo menos R$ 60 bilhões em investimentos e indicam risco de demissão de até 50.000 trabalhadores na cadeia automotiva, caso o governo leve adiante a decisão.
As montadoras argumentam que o sistema SKD resulta em poucos empregos e praticamente não envolve fornecedores locais.