Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, disse na retomada da sessão de julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff que pretende encerrar a etapa dos debates orais nesta terça-feira, podendo adentrar a madrugada de quarta para isso se necessário, mas que a votação final deve ocorrer na manhã de quarta-feira.
O novo cronograma atrapalha os planos do Palácio do Planalto que esperava ver o processo concluído na madrugada de quarta-feira para que a posse do presidente interino Michel Temer como presidente efetivo ocorresse já na manhã.
"Hoje eu pretendo impreterivelmente terminarmos essa fase de oradores. Temos mais de 60 inscritos. Se fosse possível, mas acredito que o tempo não permitirá, nós faríamos o julgamento hoje. Mas creio que terá de ficar para amanhã", disse Lewandowski ao chegar ao Senado para a 5a sessão do processo de impeachment.
"E amanhã, na primeira hora possível, nós iniciaremos o julgamento. Eu farei o relatório, depois teremos o encaminhamento e finalmente a votação", disse o presidente do STF já no início dos trabalhos no Senado. "Portanto, as nossas previsões, salvo alguma alteração substancial, indicam que o julgamento se processará a partir de quarta-feira de manhã."
Até a sessão ser retomada nesta manhã, havia 63 senadores inscritos para discursar, além das alegações finais da defesa e da acusação --uma hora e meia para cada lado, com possibilidade de mais uma hora de réplica e tréplica. Descontados os intervalos de almoço e jantar, a previsão é de uma sessão com mais de 15 horas de duração, apenas com os discursos.
A votação em si é rápida, feita por meio do painel eletrônico. No entanto, antes disso é preciso acertar uma série de detalhes, como a pergunta que será feita aos senadores e se serão necessárias duas votações, como defende a defesa. Uma delas para a perda do cargo. A outra, para perda de direitos políticos.
VIAGEM PARA CHINA
O Planalto pressiona o Senado para terminar a votação o mais rapidamente possível para que o presidente interino Michel Temer possa viajar para a China ainda na quarta-feira.
Inicialmente, Temer planejava participar de um encontro de empresários em Xangai na sexta-feira, e tem marcada uma reunião bilateral com o presidente da China, Xi Jinping, para o final da tarde do mesmo dia.
Xi Jinping havia ainda convidado o presidente interino a ir de Xangai a Hangzhou, onde acontece a reunião do G20, de trem-bala --os chineses têm interesse em vender a tecnologia ao Brasil para projetos como o que pode ligar São Paulo ao Rio de Janeiro. Com o atraso na votação, essa possibilidade já havia sido descartada.
Agora, a intenção de Lewandowski de suspender a sessão antes da votação atrapalha o roteiro de Temer e preocupou o Planalto. O presidente interino não terá como comparecer à reunião de empresários e, dependendo da hora em que a sessão terminar na quarta-feira, poderá atrapalhar o encontro bilateral --conseguido depois de muitas negociações com os chineses para tentar dar algum brilho à primeira viagem internacional de Temer.
O Planalto deseja que Temer pudesse tomar posse imediatamente e embarcar no início da tarde para a China. São 36 horas de vôo, com duas paradas por falta de autonomia do avião presidencial. Temer teria que sair do Brasil até às 16h para chegar a tempo do encontro com Xi Jinping.
Com a mudança no cronograma, a posse de Temer como presidente efetivo --que precisa ser feita em uma sessão do Congresso-- pode acontecer apenas na tarde de quarta-feira, deixando pouca margem para que ele consiga voar a tempo de se reunir com o presidente chinês.