Por Natalia Scalzaretto e Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, um dia depois de ser denunciado pela Lava Jato, que não esperava passar pelo que tem passado e acusou os procuradores que investigam o esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) de terem o objetivo de tirá-lo da vida pública.
Em declaração à imprensa em um hotel da região central de São Paulo, Lula disse que falava como "um cidadão indignado" e, cercado por apoiadores, afirmou ter orgulho de ter criado o PT, "o mais importante partido de esquerda da América Latina", segundo disse.
O ex-presidente fez críticas ao que chamou de atuação pirotécnica dos procuradores na entrevista coletiva da véspera em que apresentaram a denúncia contra ele, voltou a negar ter cometido quaisquer atos de corrupção e afirmou que nunca na história do Brasil alguém foi mais fiscalizado que ele, afirmando que tem sido alvo de escrutínio desde a época que era dirigente sindical no final da década de 1970.
"Provem uma corrupção minha que irei a pé ser preso", disse Lula em seu pronunciamento, acrescentando que seus adversários já conseguiram cassar a ex-presidente Dilma Rousseff e colocar Michel Temer na Presidência e que agora, segundo ele, para concluir a novela, é necessário tirá-lo da política.
"Ninguém respeita a lei nesse país mais do que eu. Ninguém acredita mais nas instituições do que eu", disse o ex-presidente.
Apesar do tom defensivo e, em alguns momentos, acusatório, o discurso de Lula desta vez foi menos inflamado que em sua aparição em março, quando foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimento. Desta vez, Lula também chegou a dizer que foi orientado pelos advogados a "tomar cuidado com as palavras".
O ex-presidente também parecia um pouco mais abatido, com a voz falhando em alguns momentos, especialmente quando falou da família e das dificuldades da infância.
Em tom emocionado, Lula também pediu que os procuradores da Lava Jato respeitem sua família, após sua mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, também ser denunciada pela Lava Jato na quarta-feira.
"Eu respeitaria mais a família deles do que eles respeitaram a minha", disse.
"Por favor, parem de procurar caspa onde não tem, procurem em outro lugar", disse Lula dirigindo-se aos procuradores.
Ao lado de parlamentares do PT, dirigentes de partidos aliados aos petistas e representantes de movimentos, Lula beijou o símbolo do PT em sua camisa vermelha e fez um chamamento aos militantes do partido.
"Cada petista do país precisa começar a andar de camisa vermelha... Esse partido tem que ter orgulho, porque nunca ninguém fez mais do que nós nesse país", disse.
REPRESENTAÇÃO CONTRA PROCURADORES
Lula foi denunciado pela Lava Jato acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na investigação sobre o apartamento tríplex no Guarujá, litoral em São Paulo, e o armazenamento de seus bens, que teria sido pago pela construtora OAS. [nL2N1BQ26H]
"Me dedicaram um apartamento que eu não tenho, me dedicaram uma chácara, me dedicaram até ser o comandante do esquema de corrupção na Petrobras. Eu não tenho prova, mas tenho convicção que quem mentiu está numa enrascada", disse.
Os advogados do ex-presidente e de sua mulher afirmaram, ao final do pronunciamento nesta quinta-feira, que apresentariam uma representação contra os procuradores da Lava Jato no Conselho Nacional do Ministério Público, por considerarem que eles não teriam jurisdição sobre o caso, uma vez que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) uma investigação sobre o suposto crime de organização criminosa envolvendo Lula. [nE6N1B301Q]
"Hoje nós demos entrada no Conselho Nacional do Ministério Público em uma representação mostrando graves desvios funcionais na conduta dos procuradores da República que fizeram, com recursos públicos, uma entrevista coletiva sobre um assunto que não era da atribuição deles apenas para enxovalhar a honra e a reputação do ex-presidente Lula e de dona Marisa", disse o advogado Cristiano Zanin, um dos responsáveis pela defesa do ex-presidente.
Ele também reclamou do que chamou de uma antecipação de juízo de valor dos procuradores sobre a eventual culpa de Lula no caso.
"Existe uma regra constitucional clara da presunção de inocência e existe uma regra clara editada pelo próprio Conselho Nacional do Ministério Público que impede que haja antecipação de juízo de valor", disse.
"Nenhum membro do Ministério Público pode antecipar juízo de valor em relação a investigações não concluídas."