Após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter prestado depoimento na Polícia Federal, militantes favoráveis a Lula fizeram atos em várias cidades do país para criticar a ação da Polícia Federal e a Justiça. Outros grupos se manifestaram contra o ex-presidente em São Paulo e em Brasília.
Rio de Janeiro - Sindicalistas e integrantes do PT reúnem-se na Central do Brasil em apoio ao ex-presidente Lula, após seu depoimento sob condução coercitiva à Polícia Federal Fernando Frazão/Agência Brasil
No fim da tarde de hoje (4), manifestantes com bandeiras de centrais sindicais, movimentos sociais e partidos políticos de esquerda se reuniram na Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro, em ato de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles protestam contra o fato de Lula ter sido conduzido coercitivamente para prestar depoimento na sala da Polícia Federal, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
A deputada federal Benedita da Silva (PT) disse que o ato foi marcado na Central do Brasil porque é “onde o povão passa” e para mostrar que a militância está na rua para impedir qualquer tentativa de se derrubar o governo eleito.
“Iremos impedir este golpe, a sociedade brasileira vai ficar sabendo qual é a verdadeira face do golpismo dessa direita e dessa oposição que não quer que o Brasil ande, que querem dar impeachment à Dilma e querem tirar o Lula de jogada, porque sabem que 2018 está chegando e ele pode voltar. Então, estamos aqui para defender o Estado democrático de Direito, impedir realmente que haja retrocessos nesse país, seja nas decisões do Congresso ou nas decisões judiciais”, disse a deputada, acrescentando que as investigações continuem, mas que não sejam "seletivas".
Para o deputado estadual Carlos Minc (PT), a Polícia Federal “errou na mão completamente” na operação de hoje, mas salientou que o Brasil é uma democracia e as instituições não serão afetadas. “Acho que Lula tem que esclarecer tudo, é normal, qualquer um tem que esclarecer. Acho que a gente tem que acalmar a situação política para enfrentar o desemprego, essas coisas, uma tristeza; eu vejo os estaleiros. Eu acho que até o pessoal mais crítico errou a mão, porque agora o Lula, que naturalmente quer esclarecer tudo, é o principal interessado. Ele, nitidamente está como uma vítima”, ressaltou.
A professora Nice Pinheiro, que faz parte do Diretório Municipal do PT de Queimados, diz que foi exagerada a ação da PF. “Como ele [Lula] não é réu em nada, como ele não é risco nenhum, ele deveria ter sido convocado para comparecer, assim como foi das outras vezes, em que ele se colocou à disposição para prestar qualquer depoimento. E dessa vez não, eles usaram de uma força que não existe, um poder de coerção que não existe para quem não oferece perigo nenhum”.
O aposentado Maurício Ruben compareceu ao ato vestido com uma camisa com os dizeres “Golpe nunca mais”. Ele disse que “a gente presencia no Brasil, hoje, um novo tipo de golpe que já vem sendo gestado na América Latina – na Guatemala, no Paraguai –, e agora eles querem trazer para o Brasil. Não tem mais o golpe da baioneta, então eles inventaram o golpe midiático-jurídico. Mas não vai ter golpe”.
Recife
Recife - Manifestantes favoráveis ao ex-presidente Lula fazem ato em Recife Sumaia Oliveira/Agência Brasil
Partidos e entidades que fazem parte da Frente Brasil Popular fizeram uma manifestação, no Recife, em apoio ao ex-presidente Lula e contra o que os presentes chamaram de tentativa de golpe e ato antidemocrático. Cerca de 200 pessoas compareceram na mobilização em frente ao monumento Tortura Nunca Mais, na região central da capital pernambucana. Militantes de organizações como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da União Nacional dos Estudantes (UNE) usavam bandeiras e camisas vermelhas.
O vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Sílvio Costa (PTdoB - PE) discursou no ato. Ele defendeu Lula, de quem se disse "um amigo pessoal”. Sílvio Costa disse à Agência Brasil que defende a autonomia dos investigadores e afirmou que confia na presidenta Dilma. “No governo do presidente Lula e da presidente Dilma a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário têm autonomia. Diferentemente do governo Fernando Henrique Cardoso, que quanto Romeu Tuma [ex-delegado da Polícia Federal] quis investigar a privatização, eles demitiram Romeu Tuma. O fato é que essa oposição brasileira, o DEM, o PSDB, o PSB, eles não têm qualificação moral, não tem ética para agredir o presidente Lula e a presidente Dilma. Vamos respeitar a democracia, mas vamos resistir. Confio na presidente Dilma. E não vou tolerar enquanto vice-líder que a presidente Dilma seja atacada, seja agredida na sua dignidade por nenhum partido do Brasil”, disse.
O presidente estadual do PCdoB, Alanir Cardoso, criticou a ação policial. "O presidente não foi intimado, não foi convidado, portanto não tinha que coercitivamente ser conduzido, então isso revela a quebra da legalidade institucional, uma ameaça ao Estado de Direito e, portanto, uma ameaça às conquistas que tivemos até agora”, disse.
O consultor financeiro Fernando Lisboa, 27 anos, que disse não fazer parte de nenhuma organização, esteve no ato e classificou a operação da Polícia Federal como um ato “desvairado”. “Acho que é muito importante a gente se manifestar contra um ato ilegal que foi feito hoje logo de manhã cedo, a prisão do ex-presidente Lula de forma incoerente com nossa realidade política, afinal os outros políticos do Brasil nem chegam a ser investigados. E é um ato de ruptura da democracia, ter um ex-presidente que foi compelido em sua casa e foi colocado para ser execrado na sociedade”, disse.
Aline Cordeiro, 26 anos, que acompanhava Fernando, foi mais cautelosa. “Fiquei sabendo que é uma reunião de apoio ao PT e ao presidente Lula Não sou filiada a partido e vim apoiar o movimento. A gente está acompanhando, ouvindo as declarações, conversando, mas a ideia principal é voltada ao presidente Lula, que nós apoiamos”.
Belo Horizonte
Belo Horizonte - Manifestantes favoráveis ao ex-presidente Lula fazem ato em Belo Horizonte Léo Rodrigues/Agência Brasil
Militantes do PT, da PCdoB e de entidades dos movimentos sociais fazem um ato nas escadarias da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Eles pertendem manter uma vigília permanente no local. A ação foi articulada pelos partidos junto com organizações dos movimentos sociais, entre elas as duas principais centrais sindicais do estado: a Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), além do Sindicato dos Professores (Sinpro), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e entidades estudantis.
"Nós sabemos que se tiver um golpe de Estado no Brasil e sabemos que a pauta da oposição é essa, quem vai sofrer é a classe trabalhadora. Estamos vendo uma discussão seletiva da corrupção. Por isso, nós vamos às ruas na defesa da democracia", disse a presidenta da CUT-MG, Beatriz Cerqueira.
As lideranças do PT condenaram desde cedo as ações da Polícia Federal. "Estamos vivendo o advento do estado policial, onde dois partidos novos estão surgindo na política: o Partido da Polícia Federal e o Partido do Ministério Público. As operações tem viés político, porque a gente não vê estas ações midiáticas contra ninguém do PSDB ou da oposição", criticou Durval Ângelo, líder do PT na ALMG.
Segundo o deputado, denúncias contra membros da oposição não recebem destaque da imprensa e são sempre arquivadas. "O que não faltam são denúncias sem apuração contra o senador Aécio Neves [PSDB-MG]. Mesmo um helicóptero com meia tonelada de cocaína não tem relevância. Ontem eu conheci uma mãe que está com um filho preso há 9 meses porque foi flagrado com 30 gramas de cocaína. Já os pilotos que levavam meia tonelada estão soltos e o helicóptero já foi devolvido ao dono, que é um senador aliado de Aécio Neves. Nós temos hoje uma justiça injusta, com dois pesos e duas medidas"., ponderou.
A presidenta do PT-MG, Cida de Jesus, disse que vai convidar Lula para ir a Belo Horizonte. Mais cedo, em pronunciamento no diretório do PT em São Paulo, o ex-presidente disse a jornalistas que pretende voltar ao cotidiano do partido. "A partir da semana que vem, quem quiser um discursinho do Lula, é só acertar a passagem de avião que estou disposto a andar por este país", disse.
Brasília
Brasília - Na área central da cidade, manifestantes pró ex-presidente Lula fazem manifestação em frente a sede da Rede Globo Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Na capital federal, a manifestação pró-Lula foi no centro da cidade. Cerca de 1 mil pessoas, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, percorreram, aproximadamente, dois quilômetros da sede do partido até a Rede Globo.
Com gritos de ordem, os militantes criticaram o juiz Sérgio Moro, responsável pelos inquéritos decorrentes da Lava Jato na primeira instância, por determinar a condução coercitiva de Lula para prestar depoimento na sede da Polícia Federal, no Aeroporto de Congonhas.
O presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, disse que os petistas ficarão “em vigília permanente nas ruas contra o golpe” e o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “Não vamos arredar o pé um só dia das ruas para dizer que o projeto que construimos tem que continuar”. O petista disse ainda que a legenda irá decidir neste sábado (5) se fará atos pró-governo e em defesa de Lula no próximo dia 13, quando está marcada uma manifestação contrária ao governo. “Vamos enfrentar a direita nas ruas, na porrada se for preciso”, disse Policarpo.
Contra Lula
Em São Paulo, um grupo de manifestantes protestou hoje contra o governo federal, o PT e o ex-presidente Lula depois das 18h, na Avenida Paulista, interrompendo a passagem dos carros no sentido Consolação até às 19h45. No momento, eles continuam o protesto no vão livre do Masp.
Um carro de som reproduz músicas que falam de corrupção e contra o PT. Os manifestantes também levaram um boneco inflável gigante com a caricatura do ex-presidente Lula vestido de presidiário.
São Paulo - Manifestantes contrários ao ex-presidente Lula fazem ato em frente ao MaspCamila Boehm/Agência Brasil
Fernando Holiday, coordenador nacional do Movimento Brasil Livre, disse que o PT tem atacado o Ministério Público, a Justiça Federal, a Polícia Federal e, por isso, o movimento decidiu dar uma resposta imediata. "Esperamos com essa manifestação, fazer um aquecimento para a manifestação de 13 de março e, claro, dar uma resposta ao PT e um apoio à Justiça", disse.
"O que aconteceu ontem e hoje reforça muito mais a tese do impeachment, faz com que a oposição ganhe mais força no Congresso Nacional", afirmou Holiday, referindo-se à reportagem publicada ontem (3) pela revista IstoÉ sobre a suposta delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e, também, à 24ª etapa da Operação Lava Jato, deflagrada hoje (4) e resultou no depoimento de Lula na Polícia Federal.
Palácio do Planalto
Brasília - Manifestante em frente ao Palácio do Planalto segura cartaz elogiando o juiz Sergio MoroValter Campanato/Agência Brasil
No meio da tarde, um pequeno grupo de pessoas compareceu em frente ao Palácio do Planalto empunhando uma bandeira vermelha da última campanha presidencial, com os dizeres Dilma 13. A partir das 18h, outros manifestantes com a camiseta da Seleção Brasileira de Futebol empunharam bandeiras do Brasil e cartazes favoráveis à saída da presidenta do cargo. Os motoristas de vários carros que passavam em frente ao prédio buzinaram, e fogos de artifício foram disparados na Praça dos Três Poderes. Um grupo também, em frente ao Planalto, expôs um cartaz de apoio ao juiz federal Sérgio Moro e um boneco inflável em referência ao presidente Lula vestido de presidiário, chamado de pixuleco.
* Akemi Nitahara (Rio de Janeiro), Sumaia Villela (Recife), Léo Rodrigues (Belo Horizonte), Ivan Richard e Paulo Victor Chagas (Brasília) e Camila Boehm (São Paulo)