Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, acertou neste final de semana com o presidente Michel Temer a filiação ao MDB e sua saída da pasta para se dedicar à campanha eleitoral, confirmou à Reuters o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Questionado pela Reuters, por meio de mensagem de texto, sobre a filiação de Meirelles ao MDB e sua saída do cargo, Padilha respondeu que sim.
Uma fonte palaciana, que já havia dado à Reuters essa informação sob a condição de anonimato, disse que ainda não foi definida a data de saída do ministro e nem a garantia de que ele será o candidato à Presidência pelo MDB.
Ainda de acordo com a fonte, Meirelles tomou a decisão em duas conversas com o presidente, na última sexta-feira, durante viagem ao Nordeste, e no sábado, no Palácio do Jaburu.
O próprio Meirelles, no entanto, não confirmou a candidatura, ao participar de evento em Porto Alegre, segundo sua assessoria de imprensa. O ministro disse, de acordo com a assessoria, que vai decidir até a próxima semana e que tratou disso com Temer.
O ministro vem negociando a filiação ao MDB há várias semanas, desde que ficou claro que seu partido, o PSD, lhe negaria a legenda para ser candidato à Presidência. Meirelles não havia tomado a decisão ainda por não ter a garantia de que poderia ser o candidato à Presidência --o que, aliás, ainda não tem, já que Temer, em entrevista à revista Isto É, deixou claro que ele mesmo poderá ser o candidato governista.
O ministro, no entanto, recebeu um prazo para tentar viabilizar sua candidatura, já que o presidente, ao contrário dos demais candidatos que precisam deixar seus cargos públicos, pode deixar para decidir sua candidatura até julho. Se conseguir intenções de voto melhores que a do presidente, Meirelles pode ser o candidato do partido.
"É um caminho natural. Houve conversas no grupo da bancada e a vinda do ministro Meirelles, seja para compor uma chapa, seja para ser o candidato, foi muito bem-vinda. Eu repassei esse recado ao presidente", disse à Reuters o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
O ministro disse que o MDB mantém a decisão de ter candidatura própria. "O candidato natural é o presidente Temer, mas se ele não quiser ou não puder a candidatura do ministro Meirelles é muito bem-vinda", disse.
De acordo com a fonte palaciana, ainda não foi acertado quando Meirelles deixará o ministério. O prazo máximo para desincompatilização, de acordo com a lei, é 7 de abril. Temer, no entanto, tem pedido aos ministros que saiam até 3 ou 4 do próximo mês para que haja tempo da demissão e das novas indicações serem publicadas do Diário Oficial até o dia 7.
SUBSTITUTOS
Meirelles indicou a Temer os nomes dos secretários da Fazenda Mansueto de Almeida (Acompanhamento Fiscal) e Eduardo Guardia (Secretaria Executiva) para sucedê-lo no cargo. Temer ainda não tem uma posição fechada sobre o assunto.
O presidente, no entanto, já havia dito a Meirelles que, se decidisse sair do cargo, o ministro faria seu sucessor. Além disso, em entrevista há cerca de três semanas, o presidente afirmou que a escolha seria de alguém que "desse continuidade ao trabalho" e que Meirelles tinha uma "belíssima equipe".
Ao decidir pela filiação, Meirelles volta ao MDB, partido ao qual se filiou no final do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando presidia o Banco Central.
Em 2002, Meirelles havia sido eleito deputado federal em Goiás pelo PSDB mas deixou o partido para fazer parte do governo petista, seduzido pelo desafio de assumir o BC num momento em que os mercados financeiros reagiam muito mal ao fato de Lula ter vencido as eleições.
O ministro da Fazenda passou muitos anos no mundo corporativo, entrando na década de 1970 no BankBoston, onde construiu uma carreira bem-sucedida nos Estados Unidos.
Só no início dos anos 2000 decidiu entrar na vida política de fato.