Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está a uma decisão judicial --o habeas corpus a ser analisado na quarta-feira pelo Supremo Tribunal Federal-- de passar as próximas eleições em uma prisão, e não em um palanque, mas ainda segura em suas mãos o futuro do PT e as rédeas do caminho que o partido irá tomar em 2018.
Fontes ligadas ao partido ouvidas pela Reuters contam que Lula já admitiu, a um grupo pequeno de petistas muito próximos, que dificilmente conseguirá ser candidato à Presidência. Chegou a dizer, em uma reunião com poucos presentes, que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad --tratado como um possível plano B dentro do partido-- teria que começar a se preparar para assumir o posto.
As conversas, no entanto, são limitadas e, mesmo para a alta cúpula do PT, Lula não admite desistir da luta pela sua candidatura. Oficialmente é ir até 15 de agosto, quando as candidaturas precisam ser inscritas no Tribunal Superior Eleitoral, e só agir quando sua tentativa for impugnada.
Dentro do partido começam a surgir vozes que cobram do ex-presidente um movimento em favor de uma frente de esquerda para enfrentar as próximas eleições, disseram à Reuters fontes ligadas ao partido. No limite, com a desistência do próprio Lula em apresentar seu nome.
O ex-presidente, no entanto, não deu ainda sinais de que está pronto para tomar uma decisão deste peso.
Não que o ex-presidente não tenha aberto portas para conversar com outros partidos de esquerda. Pessoalmente, incentivou a filiação de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ao PSOL para ser candidato à Presidência e tem conversado com Manuela D'Ávila, pré-candidata pelo PCdoB.
Discretamente, Lula incentivou conversas de Fernando Haddad --hoje um dos nomes mais próximos do ex-presidente-- com Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, apesar do pedetista não ter poupado críticas ao petista, com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e até com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ainda assim, até agora essas conversas não levaram a lugar algum.
PERIGO DE TERMINAR SÓ
Parte do PT, por enquanto pequena, defende que o partido precisa começar a conversar logo para não terminar sozinho nas eleições de 2018.
"Precisamos ter responsabilidade ou vamos acabar entregando essas eleições para a direita", disse uma fonte petista.
Internamente, alternativas como um eventual apoio a Ciro Gomes e até a Joaquim Barbosa, se esse confirmar uma candidatura pelo PSB, com um petista de vice, são sussurradas, mas jamais faladas em voz alta. Uma candidatura de Haddad no lugar de Lula é mais comumente comentada, mas o ex-prefeito, apesar de ser filiado há décadas ao partido, ainda é tratado como um neófito e um "poste de Lula".
"Tem muita resistência a ele. Tem gente que o trata como uma 'Dilma de calças'", disse uma outra fonte petista, referindo-se à conhecida dificuldade da ex-presidente em lidar com as negociações políticas.
No entanto, mais do que encontrar uma alternativa, externa ou interna, a Lula, o PT --e o próprio ex-presidente-- resistem a abandonar um projeto que, apesar do risco do protagonista acabar na prisão, tem hoje entre 30 e 40 por cento das intenções de voto, mais do que qualquer outro dos nomes, de esquerda ou de direita, apresentamos até agora.
Manter Lula vivo nos palanques significa manter o próprio PT vivo. "O Lula sempre foi maior que o PT, mas ele hoje é muito maior que o PT. O partido precisa dele para se reerguer", justifica uma fonte.
A ideia de que Lula pode ser preso a qualquer momento --a menos que vença este habeas corpus no STF-- começa a tomar forma dentro do partido, depois de muito tempo de negação. Ainda assim, a maioria aposta que o ex-presidente não ficaria muito tempo na cadeia e poderia sair com um outro habeas corpus para manter a campanha até onde der, ou ao menos dar os rumos do partido.
Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva em um processo em que é acusado de ter recebido um apartamento tríplex no Guarujá da empreiteira OAS em troca de benefícios durante seu governo. O petista ainda é réu em outros seis processos.
As conversas com fontes ligadas ao partido mostram que as divisões internas e o momento complicado que o PT vive deixam, mais do que nunca, nas mãos de Lula, a decisão do que fazer em 2018. Apenas o ex-presidente poderá decidir quando e se deixará a corrida eleitoral e qual será o caminho do partido porque ele é hoje a única unanimidade do PT.
"Está nas mãos dele. Só ele vai dizer o que o PT vai fazer", disse uma das fontes.