Investing.com - O ex-presidente da República Michel Temer foi preso na manhã desta quinta-feira em São Paulo pela Força Tarefa da Lava Jato do Rio de Janeiro no âmbito da Operação Radioatividade. Temer é suspeito de desviar recursos nas obras da usina nuclear de Angra 3. A localização de Temer era buscada por agentes da Polícia Federal (PF) desde quarta-feira (20), sem sucesso. Por isso, a operação, que era para ter tido início nas primeiras horas desta quinta-feira, sofreu atraso.
Também foi preso, sob a mesma suspeita, o ex-governador do RJ Moreira Franco, que foi ministro de Minas e Energia e Secretário-Geral da Presidência do governo Temer, ambos aliados de longa data na política brasileira. Os mandados foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, que também pediu a prisão de outras 10 pessoas, sendo 8 de prisão preventiva e 2 de prisão temporária.
O juiz Bretas também decretou 26 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e no Distrito Federal. Os presos foram levados à Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro.
A Operação Radioatividade investiga desvios de recursos na construção da usina nuclear de Angra 3. Em 2015, a Operação prendeu um ex-presidente da Eletronuclear, uma subsidiária da Eletrobras (SA:ELET3).
Outras acusações
O jornal O Globo deu em primeira mão a prisão do ex-presidente. O veículo havia informado que a prisão foi com base na delação premiada do operador do MDB Lúcio Funaro, que foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 5 de setembro de 2017.
De acordo com a homologação do ministro do STF Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, Funaro teria detalhado o funcionamento do esquema de corrupção no Congresso operado por caciques do antigo PMDB, como os ex-presidentes da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha - preso em Curitiba - e Henrique Alves. Também participavam do esquema os ex-ministros Geddel Vieira Lima (preso há 6 meses), o ex-ministro Moreira Franco e o ex-vice governador do Distrito Federal Tadeu Filippeli, que havia sido assessor especial de Temer na Câmara dos Deputados.
Os documentos fornecidos por Funaro indicavam como eram realizados os pagamentos aos alvos das investigações. As planilhas fornecidas à Justiça pelos doleiros Vinicius Claret, o Juca Bala, e Claudio Barbosa, o Toni, - responsáveis por enviar recursos de políticos e empresários ao exterior - foram cruzadas com os documentos de Funaro e apontam para transferências para Altair Alves, que repassava dinheiro para Cunha e Temer.
Há informações, nos documentos de Funaro, sobre o funcionamento da monitoração para que outros alvos da Lava Jato não fizessem delação premiada, as relações do Congresso com o Grupo JBS (SA:JBSS3) e o Grupo Bertin, além de operações de fundos de investimento da Caixa Econômica Federal, da campanha do ex-deputado Gabriel Chalita à Prefeitura de SP em 2012, da LLX de Eike Batista, da CPI dos Fundos de Pensão e de medidas provisórias irregulares.
Impeachment de Dilma
Funaro também acusa o ex-deputado Eduardo Cunha "pautou e liderou" a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff após rompimento com o governo da petista. O operador do MDB disse na delação que Cunha teria lhe enviado mensagem sobre disponibilidade de recursos para compra de votos necessários dos deputados para aceitarem o impeachment, mas sem citar valores. Entretanto, Funaro disse que repassou recursos a Cunha nos dias antecedentes à votação do impeachment de Dilma em abril de 2016.
Era Temer
O ex-presidente Michel Temer assumiu o Palácio do Planalto em 12 de maio de 2016, quando o Senado aceitou a instauração do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Com pauta reformista um retorno da ortodoxia à economia, Temer conseguiu aprovar a reforma trabalhista e o teto de gastos, mas falhou em sua articulação para aprovação na reforma da Previdência. O texto quase chegou a ser aprovado, mas a revelação de sua conversa com o executivo da JBS Joesley Batista, em maio de 2017, derrubou as chances de votação.
No mercado financeiro, o evento foi conhecido como Joesley Day, que derrubou os preços dos ativos no Brasil, com a ativação do circuit-break na Bovespa pela primeira vez desde a crise mundial de 2008.
Ainda em 2017, Michel Temer passou a ser o primeiro presidente do Brasil em exercício a ser denunciado por corrução passiva.
Temer foi denunciado duas vezes por Rodrigo Janot, ainda no cargo de procurador-Geral da República, por corrupção passiva e obstrução de justiça. As denúncias, contudo, foram barradas na Câmara dos Deputados.
O ex-presidente ainda é investigado por irregularidades no Porto de Sanos, parte da Operação Skala da Polícia Federal. Nesse caso, Temer é suspeito de receber propinas do setor portuário em troca de decreto que renovou a concessão das áreas.
Antes de ser vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff em 2010 e 2014, em composição organizada por Lula para trazer o PMDB para o governo, Temer foi deputado federal entre 1995 e 2009, além de comandar a Câmara entre 1997 e 2001 e 2009 e 2010.