BRASÍLIA (Reuters) - O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira que não aceitará qualquer resultado das eleições presidenciais que não seja a sua vitória e não quis opinar sobre a hipótese se Forças Armadas brasileiras aceitariam tacitamente uma vitória do candidato do PT, seu provável adversário no segundo turno, Fernando Haddad.
"Não posso falar pelos comandantes militares, respeito todos eles e, pelo que eu vejo nas ruas, eu não aceito resultado diferente da minha eleição", disse Bolsonaro, em entrevista gravada no Hospital Albert Einstein (SP) ao jornalista José Luiz Datena para o programa Brasil Urgente, da Band.
O candidato do PSL disse que, se Haddad vencer, o petista vai trabalhar para tirar da cadeia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva --que está preso desde abril cumprindo pena no processo do tríplex do Guarujá (SP)-- e fazê-lo ministro do governo dele.
"Está na cara que, se ele (Haddad) ganha as eleições, ele dá o indulto para o Lula e o Lula vira ministro da Defesa ou da Casa Civil, isso vai acontecer", disse, ao dizer que uma vitória do PT nas eleições é o caminho para a "venezuelização" do país.
Bolsonaro disse que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu --uma das principais lideranças petistas-- já afirmou que o PT vai ganhar as eleições e "assumir o poder do Brasil".
O candidato do PSL considerou que, se a então presidente Dilma Rousseff não tivesse sofrido um processo de impeachment e ainda estivesse no poder, o aparelhamento das instituições brasileiras seria "mais grave ainda", com dificuldades para revertê-la.
Questionado se haveria risco de golpe militar em razão numa hipótese dessas, ele respondeu: "Não, golpe não acredito nisso."
Mas o presidenciável, que é capitão da reserva do Exército, disse na entrevista que uma "primeira falta" do PT ainda na gestão Dilma --sem especificar o que seria isso-- poderia levar a uma atuação das Forças Armadas.
"O que eu vejo da estrutura militar, Marinha, Aeronáutica, Exército, eles não tomariam a iniciativa. Então se a primeira falta o PT viesse a cometer, aí poderia acontecer sim a participação das Forças Armadas, mas o PT errando primeiro, não nós. Não nós", disse.
"Até porque, afinal de contas, as Forças Armadas, nós somos aí avalistas da Constituição, não existe democracia sem Forças Armadas, não existe ditadura militar, todas as ditaduras são militares. Agora, o grande problema do PT realmente é a sede do poder", disse.
VICE QUIETO
O candidato a presidente disse ter determinado a seu companheiro de chapa, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), que ficasse "quieto" e "não falasse mais nada" após se envolver em uma série de polêmicas públicas, a última delas quando criticou, em uma palestra, a existência do décimo terceiro salário.
"Falei para ele sim ficar quieto porque, afinal de contas, está atrapalhando realmente", disse Bolsonaro, ao ressalvar, entretanto, que o seu vice foi mal interpretado em suas colocações sobre o pagamento do décimo terceiro.
Bolsonaro destacou que, sobre declarações de auxiliares próximos, a situação foi até "pior" com o economista Paulo Guedes, cotado para ser o homem forte da economia em seu governo.
Notícias na imprensa relataram que Guedes estaria estudando a recriação de um tributo nos moldes da CPMF e também a adoção de uma alíquota única de 20 por cento para o Imposto de Renda.
O presidenciável ressaltou que votou pela extinção da CPMF e que no caso do IR Guedes propôs a isenção de quem ganha até cinco salários mínimos, o que teria sido distorcido pela mídia.
Bolsonaro afirmou que, diante dessas polêmicas, chegou-se à conclusão de que seria melhor que Guedes não participasse de novos debates --na semana passada o economista cancelou sua presença em uma série de eventos.
Bolsonaro afirmou que liga para cada um dos seus auxiliares próximos antes de se pronunciar sobre a área de cada um deles, mas revelou que no caso das declarações de Mourão, apesar dos alertas, não houve a recíproca de ele ter adiantado o que iria falar.
"Com todo respeito, general, daqui para a frente em toda a eleição o senhor não fala mais nada", disse o candidato referindo-se à conversa que teve com Mourão. Segundo Bolsonaro, seu candidato a vice reconheceu ter se excedido. Mas ele afirmou que isso ocorreu porque Mourão não tem "experiência" de falar com a imprensa.
ACUSAÇÕES
O candidato a presidente afirmou que sua ex-mulher desmentiu "muita coisa" do que foi relatado pela revista Veja. A reportagem revelou que, em processo judicial aberto em 2008, a ex-mulher Ana Cristina Siqueira Valle acusou-o de ocultar patrimônio da Justiça Eleitoral, ter renda mensal acima da declarada e furtar um cofre bancário pertencente a ela.
Segundo Bolsonaro, sua ex-mulher disse que "nada daquilo" aconteceu e admitiu que numa separação é comum ter problemas. O candidato destacou que ela afirmou que "claramente" de "sangue quente fala coisas que não existe".
Ao destacar que deve ter alta hospitalar até domingo, o presidenciável afirmou que, por recomendação médica, deverá permanecer em casa até o dia 10 de outubro. Ou seja, não deve participar de debates na próxima semana, a última antes do primeiro turno no dia 7.
O candidato, entretanto, afirmou que após o dia 12 pretende participar de eventos de rua, mas afastado do contato com o público.
Disse estar em condições de participar dos debates, se houver segundo turno. Mostrou-se confiante de que pode vencer a corrida presidencial no primeiro turno e disse que a "grande surpresa positiva" vai vir do Nordeste --região que, de acordo com as pesquisas de intenção de voto, ele tem registrado seus piores índices de apoio.
(Por Ricardo Brito)