Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - A oposição à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, favorito na disputa, se intensificou nesta terça-feira, e partidos seguem articulação para a formação de um bloco que envolva não apenas siglas da esquerda, mas também do centro.
O PT, que no final do ano passado parecia isolado após anúncio da formação de bloco entre PCdoB, PDT, e PSB, reverteu o quadro após Maia obter o apoio formal do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.
Em reunião nesta terça-feira, petistas discutiram a formação de um bloco com o PSB e o PSOL, e ficou acertado o envio de emissários a outros partidos, como PDT, PCdoB, Rede, PTB, PP e MDB.
A maioria dos partidos envolvidos na discussão têm nomes para disputar o comando da Casa. Esse é o caso do PSOL, com Marcelo Freixo (RJ), do PSB, com JHC (AL), do MDB, com Fábio Ramalho (MG), e Alceu Moreira (RS), e do PP, com Arthur Lira (AL). A estratégia, por ora, seria apresentar uma série de candidaturas avulsas para forçar a disputa a um segundo turno. Mas não está descartada, no futuro, a definição de uma candidatura do bloco.
"As várias candidaturas que serão apresentadas, 90 por cento delas vão juntar. Vai juntar todo mundo e todo mundo vai apoiar quem for para o segundo turno. Todos contra Maia", disse à Reuters o candidato Fábio Ramalho, que hoje é vice-presidente da Câmara.
Ramalho diz que seu grupo tem mais de 350 votos, e a formação do bloco "está caminhando para isso". Questionado se haveria a formação de um bloco apenas com PP e PTB, caso não consigam fechar o acordo com os partidos de esquerda, o deputado mineiro respondeu que "não, aí temos que aguardar um pouco".
"Temos até 13h30 do dia 1º (de fevereiro)", afirmou, em referência ao prazo limite para a formação de blocos parlamentares antes da eleição da Mesa, que ocorre às 18h.
Na mesma linha, o líder do PP, Arthur Lira (AL), um dos principais interlocutores da oposição a Maia, confirmou que já vinha conversando com o PT e o PSB.
"Vamos tentar juntar todos. Se não conseguirmos, paciência, mas um bloco será feito", disse Lira à Reuters.
"Há muitos pontos em comum entre os partidos de esquerda e alguns partidos de centro que não concordaram com as situações postas lá no outro grupo. Acho que ao final vai se convergir para formar um bloco", avaliou o líder do PP, que também tem o nome na disputa pelo comando da Casa.
MAIOR QUE A PERNA
Até então encarado como um perfil moderado e opção viável para a presidência da Câmara mesmo pela oposição, Maia viu a resistência à sua candidatura ganhar força nos últimos dias.
O apoio do PSL desagradou o PSB, por exemplo, que se opõe fortemente à agenda do governo. O presidente do partido, Carlos Siqueira, já declarou abertamente que não existe a possibilidade de aliança com Maia porque o deputado se tornou o candidato do governo.
Inicialmente, haveria chance de o partido apoiar a reeleição de Maia, até por identificar no deputado uma figura flexível, aberta ao diálogo, e que não "atropelaria" divergências. Mas a guinada para a direita, com o apoio do PSL, acabou minando a disposição dos socialistas, que majoritariamente passaram a rejeitar uma aliança.
A leitura que se faz é que Maia deu um passo maior que a perna ao garantir o apoio do partido de Jair Bolsonaro sem avaliar os impactos do movimento.
Da mesma forma, o PSOL se opõe a Maia, ao PSL, e vê na sinalização para a formação de um bloco uma união contra o governo e seus "retrocessos civilizatórios". O partido alerta ainda para a necessidade de se aliar ao PCdoB e ao PDT.
Segundo uma fonte que participou da reunião desta terça, o PSOL simpatiza com a ideia do bloco, mas lembrou que tem um candidato --Freixo-- à presidência da Casa.
O mesmo movimento de Maia de aproximação com o governo teve outra leitura entre o PCdoB e o PDT, que veem no apoio à reeleição do atual presidente uma chance de garantir postos estratégicos na Casa. Os partidos, segundo duas fontes consultadas, não estão fechados a negociações, e há esperanças, dentre os articuladores do bloco, de integrá-los ao grupo.
Há uma certa desconfiança, segundo uma das fontes, quanto às reais intenções do PP, MDB e PTB, mas ideia é tocar as conversas e garantir um bloco que tenha força e número.