Por Pedro Fonseca e Gabriela Mello
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A Polícia Federal prendeu nesta segunda-feira o ex-presidente da BRF (SA:BRFS3) Pedro Faria e mais 10 pessoas em nova fase da operação Carne Franca, que contou ainda com mandados de condução coercitiva de outras 27 pessoas.
Faria era presidente da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, até o final do ano passado, em uma reformulação da administração da empresa que teve o presidente do conselho de administração da BRF, Abilio Diniz, como um dos principais promotores.
Os mandados envolvem prisões temporárias. Além de Faria foi preso Hélio dos Santos Júnior, que na semana passada renunciou do posto de vice-presidente de operações globais. A BRF é a maior exportadora de carne de frango do mundo e desde o início da operação Carne Fraca, no começo de 2017, os resultados da companhia têm sido atingidos pelo escândalo, que impactou as exportações do Brasil uma vez que vários países, incluindo a China, que suspenderam importações de produtos de proteína brasileiros.
As ações da BRF despencavam mais de 11 por cento às 10h55, enquanto o Ibovespa tinha baixa de 0,7 por cento. A rival JBS (SA:JBSS3) recuava 4 por cento.
Segundo o delegado da PF encarregado das investigações, Maurício Moscardi Grillo, a BRF não tomava todos os cuidados sanitários necessários, e executivos da companhia tinham conhecimento dos fatos. O delegado afirmou a jornalistas, nesta segunda-feira, que provas e emails coletados indicam que as fraudes foram cometidas entre 2012 e 2015, com intervenção de gerente da BRF no cadastramento de laboratório que fraudaria as análises da qualidade dos alimentos para a empresa.
"O controle de qualidade da empresa, bem como executivos ligados à empresa em todas as áreas hierárquicas, do seu presidente até o gerente de controle de qualidade, tinham conhecimento dos fatos que aconteciam", afirmou o delegado.
Além de trocas de resultados de análises, o coordenador-geral de inspeção de produtos de origem animal do Ministério de Agricultura, Alexandre Campos da Silva, acrescentou que houve omissão da presença da bactéria salmonella em produtos da companhia e que as fraudes cometidas colocam em risco a exportação de carnes do Brasil.
Na ação desta segunda-feira, chamada Operação Trapaça, agentes da PF cumprem um total de 91 mandados judiciais nos Estados de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo.
"Todos (os mandados) foram de pessoas em caráter de testemunha nos autos da investigação, não desrespeitando a decisão do Supremo (Tribunal Federal) de não desrespeitar o suspeito. Mas temos que considerar o poderio econômico da empresa que é muito grande", afirmou Grillo.
Representantes da BRF não comentaram o assunto.
"A investigação policial deve repercutir negativamente, tanto no mercado local, quanto no mercado externo. O grande risco para a BRF é a volta (e aumento) das restrições sobre seus produtos no Brasil e exterior", afirmaram analistas da Guide Investimentos em relatório.
MUDANÇAS NA GESTÃO
A BRF havia marcado uma reunião extraordinária de seu conselho de administração para esta segunda-feira para convocação de assembleia de acionistas para troca de todo o colegiado da companhia. Os fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil (SA:BBAS3), e Petros, da Petrobras (SA:PETR4), entre os principais investidores da BRF defendem a troca dos executivos do conselho, incluindo Diniz.
No ano passado, ao anunciar no final de agosto decisão de troca da presidência-executiva da BRF, Diniz afirmou que não havia nenhuma chance do substituto de Faria vir de dentro da própria companhia, sem dar muitos detalhes o motivo desta preferência. Na ocasião, Diniz afirmou a analistas da BRF que o momento do anúncio da saída de Faria, em um momento em que a empresa vinha apresentando resultados abaixo do esperado, era adequado e que "não houve pressão de ninguém" para a troca do comando.
Na semana passada, Diniz afirmou aos analistas da BRF que a empresa precisava "recuperar a credibilidade para a administração da companhia". A empresa teve em 2017 prejuízo líquido de 1,1 bilhão de reais e passou a ser presidida por José Aurélio Drummond Jr. no final do ano passado.
Segundo a Polícia Federal, as investigações demonstraram que a prática das fraudes contava com a anuência de executivos do grupo empresarial, e também foram constatadas manobras extrajudiciais operadas por executivos do grupo com o fim de acobertar a prática dos atos ilícitos ao longo das investigações.
"As fraudes operadas tinham como finalidade burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA) e, com isso, não permitir que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento fiscalizasse com eficácia a qualidade do processo industrial da empresa investigada", afirmou a PF.
(Com reportagem adicional de Flavia Bohone em São Paulo; Ricardo Brito em Brasília)