Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Com o presidente Michel Temer fora do país, a ordem no Palácio do Planalto é não comentar a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e manter distância do ex-deputado fluminense, disseram à Reuters duas fontes governistas.
A informação oficial, passada pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República, é que a preocupação com a prisão de Cunha "é zero" e o governo não interfere em ações de outro Poder.
Internamente, fontes avaliam que a prisão do ex-deputado "já estava na conta" e não foi uma surpresa. "Até surpreende que demorou mais do que se esperava para acontecer", disse uma das fontes.
Desde que assumiu a Presidência da República, Temer tem tentado se manter longe de Cunha e, apesar de serem do mesmo partido, preferiu evitar de qualquer forma ajudá-lo a escapar da cassação.
O afastamento definitivo do deputado facilitou a situação do Planalto, mas a prisão traz de volta um risco concreto de uma delação premiada, avalia um assessor palaciano. Especialmente com a mulher de Cunha, Claudia Cruz, também sendo processada pelo juiz Sérgio Moro.
De acordo com uma das fontes ouvidas pela Reuters, o temor de uma delação de Cunha tem mais relação com o efeito que pode ter no PMDB do que no governo Temer em si, apesar de não haver dúvidas de que um abalo no partido pode afetar a estabilidade do governo.
A avaliação é que, ao contrário do que apregoa a oposição, Cunha não teria elementos para comprometer o presidente, com quem nunca teria tido uma relação tão próxima. No entanto, poderia complicar a vida de outros peemedebistas e desestabilizar o governo, que já se vê envolto em denúncias contra seus ministros.
No núcleo político do Planalto, nenhum dos ministros tem proximidade com Cunha ou circulava no mesmo grupo peemedebista do ex-deputado, que foi levado à política fluminense pelo grupo de Anthony Garotinho, Sergio Cabral e a família Picciani. Embora Leonardo Picciani seja ministro do Esporte de Temer, ele não faz parte do núcleo próximo do presidente.
A única exceção é Moreira Franco, secretário do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), também oriundo do Rio de Janeiro, a quem Cunha já acusou de estar por trás de irregularidades do projeto do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. O secretário, no entanto, afirma não ser do mesmo grupo e não ter relação com Cunha.
A ordem é manter o silêncio e distância do ex-parlamentar fluminense e não trazer o problema para dentro do Planalto. A informação repassada pela assessoria da Presidência é que Temer ainda não foi informado da prisão, já que está em trânsito e dormindo na ala privada do avião presidencial. 2016-10-19T200251Z_1_LYNXNPEC9I1GO_RTROPTP_1_RUPTION.JPG