Por Pedro Fonseca
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Manifestantes bloquearam importantes vias de diversas cidades do país na manhã desta sexta-feira, provocando alguns confrontos com a polícia, e trabalhadores de diferentes categorias decidiram aderir à greve geral convocada por movimentos sindicais em protesto contra reformas consideradas prioritárias pelo governo do presidente Michel Temer.
O transporte público foi afetado nas principais capitais do país, e escolas e estabelecimentos comerciais fecharam as portas.
Ao menos 16 pessoas foram detidas em São Paulo por participação em conflitos com a polícia durante os protestos, e um policial militar ficou ferido, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado. Também houve confrontos entre manifestantes e a polícia perto da rodoviária do Rio de Janeiro, com uso de bombas de gás lacrimogêneo.
Os protestos fazem parte da greve geral convocada para esta sexta-feira contra as reformas trabalhista e da Previdência, que estão em tramitação no Congresso. Segundo as centrais sindicais, funcionários dos transportes públicos, portuários, aeroviários, professores, petroleiros, metalúrgicos e bancários, entre outros, decidiram aderir ao movimento.
"Greve? Eu preciso trabalhar. O pessoal está com medo é de perder o emprego, a gente que tem trabalho tem mais é que agradecer todo dia", disse Michelle Barbosa, funcionária de uma padaria que abriu normalmente no centro do Rio.
Os serviços de metrô, trem e ônibus de São Paulo estavam paralisados no início da manhã, apesar de decisões judiciais obtidas pela prefeitura da cidade e o governo do Estado que determinam o funcionamento de ao menos um percentual do sistema de transporte coletivo, sob pena de multa em casos de descumprimento.
O metrô de São Paulo iniciou o dia sem operar devido à paralisação, mas voltou a funcionar parcialmente ao longo da manhã, assim como os trens urbanos da capital paulista. Entre as seis linhas de metrô da cidade, duas estavam paralisadas, duas tinham funcionamento parcial e duas estavam operando normalmente, segundo balançado da operadora às 10h15.
Os ônibus não estão circulando desde o início da manhã, só miniôbus que prestam serviços locais.
Houve protesto no saguão de embarque do aeroporto de Brasília, atrasando procedimentos de viagens, assim como em outros aeroportos, mas 69 por cento dos voos do país estavam no horário, enquanto 6,5 por cento foram cancelados e 17 por cento sofreram atraso, segundo balanço da estatal Infraero divulgado às 11h (horário de Brasília).
Em São Paulo, a avenida 23 de Maio, no centro da cidade, foi uma das diversas vias fechadas na capital paulista com barricadas em chamas, e manifestantes também bloquearam temporariamente uma rodovia de acesso ao porto de Santos, o maior do país, em Cubatão, de acordo com imagens de televisão.
Policiais foram acionados para tentar liberar as vias.
"Acho que essa greve tinha que ter parado tudo e ninguém vir. A reforma trabalhista não tem que ser como eles estão querendo fazer e a reforma da Previdência também, a gente morre e não aposenta", disse Lurdes da Silva, auxiliar de limpeza em São Paulo, de 51 anos, que teve problemas para pegar o trem a caminho do trabalho.
No Rio de Janeiro, houve protestos no acesso ao aeroporto Santos Dumont e alguns passageiros tiveram que descer de carros e táxis e seguir a pé para tentar chegar a tempo ao terminal no centro da cidade. Manifestantes também bloquearam a Ponte Rio-Niterói logo cedo nos dois sentidos, assim como diversas outras vias importantes.
“É um movimento legítimo, apesar de muitas pessoas tentarem esvaziar esses movimentos por uma questão ideológica", disse a advogada Eduarda Bolso, que foi trabalhar normalmente no centro do Rio. "No fundo acho que o panorama não tem outro jeito. Chegou a um extremo, acho que é a única maneira de realmente enxergarem o quão grave é a situação política atual do país.”
REFORMAS
O dia de paralisações ocorre na mesma semana em que a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de reforma trabalhista que tem como eixo principal a prevalência dos acordos e negociações sobre a legislação vigente, e em meio à tramitação da reforma da Previdência. A reforma trabalhista também retira a obrigatoriedade da contribuição sindical, o que tem sido apontado como um enfraquecimento das centrais sindicais.
As centrais sindicais protestam contra ambos os projetos, alegando que vão tirar direitos e prejudicar os trabalhadores, enquanto o governo defende que as duas reformas são fundamentais para a recuperação econômica do país, que enfrenta a pior recessão da história.
O Palácio do Planalto vinha monitorando a mobilização para a greve, chegou a minimizar o impacto, mas admite que pode haver violência nas manifestações convocadas para o longo do dia.
Nos últimos dias, o presidente Michel Temer e alguns de seus auxiliares conversaram com representantes das centrais sindicais mais próximas ao governo, como a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) para tentar diminuir à adesão das centrais ao movimento, mas sem sucesso.
"O governo trabalha para retirar o país da pior recessão da história, resultado da gestão petista que a CUT apoiou. A herança é de 13 milhões de desempregados. Hoje, o governo realiza reformas para mudar esse quadro, gerar empregos e crescimento econômico", afirmou um assessor do presidente, acrescentando que há "amplo diálogo com todos setores que querem o desenvolvimento do país".
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Osmar Serraglio, chamou a greve de um movimento isolado dos sindicatos, os quais acusou de serem "cabides de emprego" e de se "aproveitarem do suor do trabalhador". Segundo ele, os primeiros sinais são de uma "greve não existente" e de um "fracasso" da movimentação.
"Essa greve é aparentemente uma greve dos sindicatos, das centrais, perturbados com a decisão dessa semana do Congresso Nacional que de alguma maneira está retirando recursos que são bilhardários", disse Serraglio em entrevista à rádio CBN, acrescentando que as reformas são um "remédio amargo" para enfrentar a crise econômica.
(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier e Maria Clara Pestre, no Rio de Janeiro; Anthony Boadle, em Brasília; e Thais Freitas, em São Paulo)