Por Iuri Dantas
SÃO PAULO (Reuters) - Principal alvo de preocupação do mercado financeiro, a política econômica do sucessor de Michel Temer terá obrigatoriamente não só que resolver a óbvia questão fiscal, mas também a resistente e elevada taxa de desemprego, se quiser ver a atividade econômica entrar num caminho mais sustentável de crescimento.
E para isso, segundo economistas ouvidos pela Reuters, será preciso trabalhar numa reforma da Previdência, reduzir gastos e elevar a arrecadação de impostos. E diretamente para o emprego, há quem defenda programas com recursos públicos para estimular a atividade econômica e abertura de novas vagas.
"As correntes econômicas, quaisquer que sejam aqueles que vencerem as eleições, precisarão olhar o emprego", disse o professor de economia do IBMEC Walter Franco Lopes.
Segundo ele, o próximo governo deve buscar ainda durante o período de transição, após o pleito de outubro, negociar com o Congresso mudanças para que o próximo Orçamento traga políticas de geração de vagas.
A retomada mais lenta e o estresse no câmbio têm contribuído para elevação da dívida pública e maior resistência da taxa de desemprego, que caiu a 12,7 por cento nos três meses encerrados em maio, mas num movimento marcado pelo desalento dos trabalhadores, que desistiram de procurar uma vaga diante da fraca atividade econômica e baixa confiança dos agentes econômicos.
A reforma da Previdência é tida como imprescindível, mas não suficiente para o cumprimento das obrigações fiscais no primeiro ano do próximo governo, que exigiria também cortes de gastos e medidas para elevar a arrecadação de impostos.
"A bola estará com o próximo governo e está totalmente claro que é um governo que vai ter de lidar com o desafio fiscal, qualquer outra medida é de fôlego curtinho", avaliou o coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, Armando Castelar. "Política de emprego neste momento é reduzir incerteza e melhorar a confiança", acrescentou ele.
O risco político associado às eleições deste ano ganhou força entre investidores recentemente. Ao mesmo tempo, a greve dos caminhoneiros e a normalização da política monetária nos Estados Unidos e na União Europeia deterioram expectativas sobre o crescimento da economia neste ano. Os mercados financeiros têm reagido mal a esse cenário. O Ibovespa fechou o primeiro semestre com queda acumulada de 4,76 por cento, enquanto Banco Central e Tesouro passaram a intervir nos mercados de câmbio e juros futuros para acalmar investidores.
Paralelamente, a retomada da economia brasileira vem sendo alvo de constantes reduções. Pesquisa Focus semanal do BC com cerca de 100 economistas indicava avanço de 3 por cento neste ano há alguns meses, frente a cerca de 1,50 por cento agora.
"A questão é que o próximo presidente tem que se preocupar com as questões de Estado primeiro e isso deve custar a ele no início do mandato problema de popularidade", afirmou o diretor de macroeconomia do IPEA, José Ronaldo de Castro.
SITUAÇÃO FISCAL
Para ele, é importante a revisão na forma de concessão e de reajustes da Previdência, sem retirada de benefícios, além de uma avaliação sobre a efetividade de programas na redução da desigualdade e da pobreza para identificar a necessidade de outras alterações nas políticas públicas.
O apoio do mercado a ajustes nas chamadas despesas obrigatórias deve-se ao engessamento do Orçamento da União, com mais de 95 por cento de seus recursos já carimbados para destinações específicas.
A falta de margem de manobra das finanças federais ficou latente na greve dos caminhoneiros, quando o governo precisou usar praticamente toda a reserva do Orçamento para atender reivindicações bilionárias dos motoristas, além de elevar tributos sobre alguns setores econômicos.
"A dívida pública continua a crescer e está numa trajetória insustentável. Se continuarmos nessa trajetória mais cedo ou mais tarde teremos crise de confiança", disse o professor do IBMEC, Carlos Primo Braga, ex-diretor de Política Econômica e Dívida do Banco Mundial.