BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer desistiu da viagem que faria no início de maio a quatro países asiáticos, e permanecerá no Brasil enquanto é alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de recebimento de propina no chamado inquérito dos portos.
Temer visitaria Cingapura, Tailândia, Indonésia e Vietnã de 7 a 14 de maio.
Em nota, divulgada na manhã desta segunda-feira, o Palácio do Planalto negou que o cancelamento do tour asiático tenha relação com as investigações de que Temer é alvo.
"O adiamento da viagem do presidente Michel Temer à Ásia se deu unicamente porque, tendo em vista o calendário eleitoral, a ausência do chefe de governo do país, neste momento, obrigaria os presidentes da Câmara e do Senado a também deixarem o território nacional simultaneamente, prejudicando votações importantes ao país", disse o Planalto.
"O inquérito que inclui acusações contra o presidente tem 150 dias e pedido de prorrogação de mais 60, não sendo causa urgente que justifique mudança de agenda. Somente pessoas desinformadas sobre tal circunstância espalhariam versão tão inverossímil", acrescentou.
De acordo com o Palácio do Planalto, o presidente decidiu cancelar a viagem à Ásia para acompanhar a votação de proposta no Congresso que remanejará recursos do Orçamento da União para cobrir a inadimplência da Venezuela e de Moçambique em operações nas quais o Brasil é o garantidor de crédito. [nL1N1S31HK]
Se Temer deixasse o país, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), teriam de se licenciar do cargo ou também sair do país devido a regras eleitorais, o que prejudicaria a tramitação da proposta orçamentária.
O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, também disse à Reuters que a razão do cancelamento seriam as votações no Congresso e a necessidade de Maia e Eunício saírem do país também.
A decisão de cancelar a viagem foi tomada após a Polícia Federal ter solicitado ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), a prorrogação por 60 dias do inquérito dos portos, que investiga se Temer cometeu crimes na edição de um decreto ano passado que mudou regras portuárias.
Além disso, a Polícia Federal marcou para a semana que vem, em que o presidente estaria fora, o depoimento de sua filha Maristela Temer, que, segundo denúncias, teria tido uma reforma na sua casa paga por João Baptista Lima Filho, amigo do presidente.
Temer é investigado nesse inquérito sob suspeita de ter recebido propina, por meio do então assessor especial, Rodrigo Rocha Loures, para editar um decreto que beneficiou a empresa Rodrimar em alterações legais para a área portuária.
Na semana passada, Temer afirmou, em um firme pronunciamento, ser alvo de uma "perseguição criminosa disfarçada de investigação", e disse que, se pensam "ilusoriamente" que irão derrubá-lo, não vão conseguir. [nL1N1S42HD]
Está é a segunda vez que Temer cancela a viagem à Ásia. A primeira visita estava marcada para o início de janeiro, mas foi cancelada por recomendação médica. Temer havia passado pouco tempo antes por uma intervenção cirúrgica para desobstrução da uretra.
(Por Lisandra Paraguassu)