BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto cedeu à pressão do chamado centrão –o bloco formado por 13 partidos– e decidiu indicar o deputado André Moura (PSC-SE) para a liderança do governo na Casa, apesar da resistência inicial de nomear um parlamentar marcado como sendo da tropa de choque do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informaram à Reuters duas fontes palacianas.
Moura era apoiado pelo centrão e pelo PMDB, mas não pelo PSDB, DEM e PPS. Durante reunião com o presidente interino Michel Temer, na tarde de terça-feira, os parlamentares apresentaram o nome de Moura, mas ouviram que o governo queria uma terceira via. Nem Moura, nem Rodrigo Maia (DEM-RJ), nominado pelos demais partidos. A alegação era de que era necessário um nome de consenso, que não dividisse a bancada.
A divisão era apenas um dos problemas. Temer resistia a ter seu governo representado por um parlamentar carimbado como sendo um dos homens mais próximos a Cunha e com uma ficha corrida que envolve seis inquéritos no Supremo Tribunal Federal –de apropriação indébita à acusação de homicídio– e investigações na operação Lava Jato por corrupção ativa, passiva e formação de quadrilha.
O centrão, no entanto, aumentou a pressão e apresentou o nome de 300 parlamentares que apoiavam André Moura. Preocupado com possíveis defecções em um momento em que o novo governo precisa de apoio no Congresso para passar medidas complicadas, como a reforma da Previdência, Temer terminou por ceder.
O chamado centrão, formado por PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, SD, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB, tem 225 deputados, o suficiente para fazer um estrago em qualquer votação, caso não tenham seus interesses satisfeitos.
Um dos mais fiéis integrantes da tropa de choque do presidente afastado da Câmara (PMDB-RJ), Moura enfrentava resistência no Planalto por parecer uma infiltração de Cunha, além de ter uma longa ficha judicial e estar sendo investigado pela operação Lava Jato.
O deputado sergipano é investigado, juntamente com outros oito deputados próximos a Cunha, por corrupção passiva, ativa e lavagem de dinheiro em operações envolvendo o banco Schahin.
Moura ainda tem outros seis inquéritos no STF. Três deles, por apropriação indébita, desvio de bens e formação de quadrilha na prefeitura de Pirambu, onde exerceu dois mandatos. Há ainda um inquérito por suspeita de corrupção em dispensas de licitação na Assembleia Estadual de Sergipe e até uma acusação de homicídio.
No Senado, nomes de duas senadoras de partidos aliados do novo governo estariam sendo considerados: Simone Tebet (PMDB-MS), e Ana Amélia (PP-RS). Temer dá preferência a uma mulher, para contrabalançar as críticas de que não nomeou nenhuma para seu ministério, mas Ricardo Ferraço (PSDB-ES) corre por fora.
A decisão deve ser tomada em encontro de Temer esta manhã com líderes do Senado e os nomes dos dois líderes anunciados ainda nesta quarta-feira.
(Por Lisandra Paraguassu)