Por Anthony Boadle e Alonso Soto
BRASÍLIA (Reuters) - O reequilíbrio das contas fiscais e a restauração da confiança serão as prioridades de um novo governo liderado pelo vice-presidente Michel Temer, mas elevar impostos ainda não está em questão, disse o presidente interino do PMDB, senador Romero Jucá (RR), nesta quarta-feira.
Jucá disse a jornalistas estrangeiros que um novo governo vai considerar uma reforma do oneroso sistema previdenciário. Temer substituirá a presidente Dilma Rousseff se, como é esperado, o Senado afastá-la temporariamente do cargo para começar seu processo de impeachment no meio de maio.
"Elevar os impostos não é a primeira opção... em um momento de recessão, elevar os impostos não aumenta as receitas", declarou Jucá, economista que está sendo cotado para o cargo de ministro do Planejamento.
Para restaurar rapidamente a confiança na economia brasileira, Jucá disse que a próxima administração tem que revisar o que ele chamou de níveis de gastos públicos "insustentáveis" e pode até discutir a implantação de um limite para a dívida pública.
Ele se recusou a detalhar como o eventual governo pode reduzir os gastos, mas reconheceu que uma administração Temer pode cortar o número de ministério para economizar.
Temer só elevará os impostos sob "circunstâncias extremas" para reforçar as contas públicas, disse outro assistente próximo a Temer.
Segundo uma fonte, que pediu para não ser identificada, Temer descartou um imposto como a CPMF, mas pode considerar elevar alíquotas do IOF ou da Cide.
Jucá ressaltou que Temer ainda não convidou ninguém para fazer parte de seu eventual ministério e que fará isso apenas depois de o Senado decidir se afasta Dilma.
O senador disse que um governo Temer poderia considerar conceder independência completa ao Banco Central, que hoje tem apenas autonomia administrativa. Duas outras fontes próximas ao vice-presidente disseram à Reuters que não há um consenso no PMDB sobre esse tema.
Jucá afirmou também que Temer vai agir rapidamente para recuperar a credibilidade no governo e nas agências, garantir estabilidade jurídica com menos intervenção estatal e restaurar a previsibilidade na economia, algo que está faltando e tem afastado investidores.
O PMDB não acredita que um pedido de impeachment contra Temer na Câmara dos Deputados avance e avalia que as ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que podem cassar a chapa Dilma-Temer, levarão ainda vários meses e "não são um fator de instabilidade política", disse Jucá.
O senador afirmou ainda que um governo Temer estará determinado a restaurar a saúde financeira da Petrobras (SA:PETR4), que tem sido atingida pelo escândalo bilionário de corrupção investigado pela operação Lava Jato e pelos preços dos combustíveis mantidos baixos pelo governo Dilma.