Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer cumprimentou, por telegrama, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e afirmou "estar certo" de que será possível trabalhar junto com o republicano "para estreitar ainda mais os laços de amizade e cooperação que unem nossos povos", segundo o Itamaraty.
"O Brasil e os Estados Unidos são duas grandes democracias que compartilham valores e mantêm, historicamente, fortes relações nos mais diferentes domínios", escreveu o presidente.
No texto, obtido pela Reuters momentos antes da divulgação oficial, Temer deseja a Trump "pleno êxito" frente ao governo dos Estados Unidos.
Mais cedo, em entrevista a uma rádio de Minas Gerais, Temer afirmou que nada mudará na relação entre os dois países.
"A relação do Brasil com os Estados Unidos, assim como com os demais países, é institucional", afirmou Temer em entrevista à rádio Itatiaia. "Estou mandando cumprimentá-lo pela eleição, tenho certeza que não muda nada na relação Brasil e EUA."
O presidente afirmou, ainda, que os Estados Unidos tem uma "democracia sólida" e que "as coisas irão muito bem".
"Evidentemente quando alguém assume o poder, seja aqui ou nos Estados Unidos, especialmente nos Estados Unidos, onde as instituições são fortíssimas, é claro que o novo presidente que assume terá que levar em conta as aspirações de todo o povo norte-americano. Eu tenho certeza que lá as coisas irão muito bem”, disse.
Em uma segunda entrevista, dessa vez para a rádio Jovem Pan, Temer relativizou o poder a ser exercido pelo futuro presidente norte-americano, conhecido por suas visões radicais contra acordos comerciais, imigrantes e outros temas.
"Acabei de ouvir alguém dizer que os Estados Unidos têm instituições sólidas e democráticas. De modo que quem assume o poder não consegue, convenhamos, exercer com todo autoritarismo. Ele exerce com a força da autoridade institucional do presidente da República, mas há uma série de condicionantes que o presidente há de obedecer", disse Temer. "Então tenho certeza que a relação institucional do Brasil com os EUA continua a mesma, não haverá modificação nenhuma."
O governo brasileiro não escondia uma preferência pela candidatura democrata de Hillary Clinton, já que considera Trump "imprevisível". No entanto, assessores presidenciais disseram à Reuters que Temer gostou do discurso mais equilibrado de Trump depois da vitória e acredita que a relação será "institucional".
Questionado na Jovem Pan se tinha uma preferência pessoal, Temer negou. "Eu tenho sempre preferência por quem consiga manter uma boa relação com o nosso país e com quem consiga preservar a democracia. É o que espero que o presidente Trump consiga realizar nos Estados Unidos, disse.
O presidente ressaltou, ainda, a parceria comercial entre Estados Unidos e Brasil --o país é o segundo parceiro comercial brasileiro, atrás apenas da China-- e que tem interesse em aumentar os investimentos norte-americanos no país.
"Temos todo interesse. É importante para o foco principal do nosso governo, que é eliminar pouco a pouco o desemprego", disse Temer.
A relação, no entanto, não deve crescer tanto. Uma das bandeiras de Trump na campanha foi denunciar acordos comerciais como "exportadores de empregos americanos".
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também comentou a eleição de Trump e afirmou que "não vê consequências, para melhor ou para pior", em relação ao Brasil.
"A aliança entre o povo brasileiro e o povo americano já é histórica, nós temos uma grande parceria comercial, temos uma grande parceria na troca de turistas. Isso não vai mudar", afirmou ao sair de evento na Fundação Ulisses Guimarães.
Para o ministro, a "sociedade muda o rumo quando quer".
"Não é surpreendente (a eleição de Trump), considerando a madura democracia dos Estados Unidos. É um retrato de um novo tempo. Vimos isso também quando a Inglaterra resolveu sair do mercado comum. Portanto, não há grandes surpresas. Estamos convivendo e teremos que aprender a conviver com novo tempos", acrescentou Padilha.