Por Lisandra Paraguassu e Silvio Cascione
BRASÍLIA (Reuters) - A vitória de Donald Trump na corrida pela Presidência norte-americana não vai mudar a relação dos EUA com o Brasil, afirmou nesta quarta-feira o presidente Michel Temer, mas o Banco Central e o Ministério da Fazenda já deixaram claro que estão prontos para agir para neutralizar a volatilidade na economia com o novo cenário.
"A relação do Brasil com os Estados Unidos, assim como com os demais países, é institucional", afirmou pela manhã Temer em entrevista à rádio Itatiaia. "Estou mandando cumprimentá-lo (Trump) pela eleição, tenho certeza que não muda nada na relação Brasil e EUA."
O republicano Trump surpreendeu o mundo derrotando a franca favorita Hillary Clinton na eleição presidencial dos Estados Unidos na véspera, encerrando oito anos de governo democrata e colocando o país em um caminho novo e incerto.
A reação dos mercados financeiros no mundo todo foi imediata, com as bolsas de valores em queda e o dólar em alta diante de moedas de países emergentes, trazendo volatilidade sobretudo pela manhã. No Brasil, a moeda norte-americana (BRBY) chegou a subir mais de 2 por cento, batendo em 3,25 reais, e a Bovespa (BVSP) caiu mais de 3 por cento.
Após o discurso mais conciliador de Trump, parte do nervosismo dos mercados perdeu força, mas ainda existiam muitas dúvidas sobre o futuro da condução política e econômica da maior economia do mundo sob a batuta de Trump, que durante sua campanha à Casa Branca defendeu ideias protecionistas e radicais. Ele é considerado, até agora, imprevisível.
Sendo assim, a equipe econômica brasileira saiu a campo para tentar acalmar os ânimos dos agentes econômicos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que a economia brasileira está preparada para lidar com os impactos econômicos após a eleição dos Estados Unidos.
"O Brasil está preparado para lidar com qualquer volatilidade dos mercados", afirmou o ministro por meio de nota.
Meirelles também destacou que a equipe econômica vem acompanhando a evolução dos principais indicadores e os efeitos da eleição de Trump para o crescimento do Brasil, sobretudo nas projeções para 2017.
O presidente do Banco Central brasileiro, Ilan Goldfajn, afirmou pela manhã que também acompanha a reação dos mercados globais à eleição norte-americana e que tomaria as medidas adequadas. Na prática, isso já foi feito. O BC cancelou o leilão de swaps cambiais reversos --equivalentes à compra futura de dólares-- que faria nesta manhã.
"Caso necessário, tomaremos as medidas adequadas", afirmou Ilan a jornalistas, após encontro com Meirelles, sem comentar diretamente o resultado da eleição ou sobre o futuro da política monetária dos Estados Unidos.
Mesmo que ainda seja cedo para previsões mais consistentes, a vitória de Trump deve trazer uma série de consequências negativas para a economia brasileira, como saída de capital, prejuízos para o comércio exterior e redução do crescimento econômico, segundo analistas ouvidos pela Reuters nesta semana.
RADICALISMO
Em uma segunda entrevista, dessa vez para a rádio Jovem Pan, Temer relativizou o poder a ser exercido pelo futuro presidente norte-americano, conhecido por suas visões radicais contra acordos comerciais, imigrantes e outros temas.
"Acabei de ouvir alguém dizer que os Estados Unidos têm instituições sólidas e democráticas. De modo que quem assume o poder não consegue, convenhamos, exercer com todo autoritarismo. Ele exerce com a força da autoridade institucional do presidente da República, mas há uma série de condicionantes que o presidente há de obedecer", disse Temer.
"Então tenho certeza que a relação institucional do Brasil com os EUA continua a mesma, não haverá modificação nenhuma."
O governo brasileiro não escondia preferência pela candidatura de Hillary, já que considera Trump "imprevisível". No entanto, assessores presidenciais disseram à Reuters que Temer gostou do discurso mais equilibrado de Trump depois da vitória e acredita que a relação será "institucional".
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também comentou a eleição de Trump e afirmou que "não vê consequências, para melhor ou para pior", em relação ao Brasil.
"A aliança entre o povo brasileiro e o povo americano já é histórica, nós temos uma grande parceria comercial, temos uma grande parceria na troca de turistas. Isso não vai mudar", afirmou ao sair de evento na Fundação Ulysses Guimarães.