SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Michel Temer pintou um quadro bem pior da situação fiscal do país do que o próprio governo projeta, ao defender o teto dos gastos nesta sexta-feira e afirmar que "talvez" em dez anos o país já tenha conseguido "empatar" as despesas com as receitas.
"Veja que o teto de gastos públicos prevê um prazo de 20 anos para que na verdade nós possamos empatar, digamos assim, aquilo que você arrecada com aquilo que você gasta, e revisável daqui a 10 anos. A suposição é de que daqui a 10 anos talvez haja esse empate que eu estou mencionando, portanto se pode fazer uma revisão dessa emenda à Constituição Federal", disse Temer em evento em São Paulo.
"Interessante, quando nós apanhamos o governo, num primeiro momento o déficit (primário) era de 179 bilhões de reais, no ano seguinte, 159 bilhões. Neste ano, deverá ser de 139 bilhões. Ou seja, está diminuindo e diminuiu numa tal forma que não é improvável que daqui a 10 anos nós possamos dizer 'agora já empatamos, não precisamos mais do teto de gastos públicos'", acrescentou.
Mas a própria equipe econômica trabalha com projeções melhores, de que resultado primário poderá voltar ao azul a partir de 2022, 2023, "dependendo da aprovação das reformas, que vai repercutir no crescimento potencial, na melhora da arrecadação, na continuidade do projeto de concessão, que vai atrair mais investimento", disse o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, no mês passado. [nL1N1RP29A]
A emenda à Constituição que criou o teto dos gastos públicos foi aprovada no final de 2016 e tem como principal objetivo reequilibrar as contas públicas e garantir uma trajetória declinante para a dívida pública. Previsto para durar 20 anos, o teto pode ser revisto em 10 anos e limita o crescimento das despesas à variação da inflação do ano anterior.
Falando em um fórum sobre "riscos de negócios internacionais", o presidente abordou diversos temas em seu discurso, desde criação de empregos, preservação ambiental até um aparente apoio à participação da Rússia na guerra civil síria.
Temer citou declaração do presidente russo, Vladimir Putin, em livro com entrevistas suas ao cineasta norte-americano Oliver Stone.
"Perguntaram sobre a Síria. Como é que é? Que história é essa da Rússia entrar na Síria? Ele (Putin) disse: 'olha, se a Rússia não entrar, o chamado Estado Islâmico toma conta daquilo e vai criar um problema seriíssimo para a região e seriíssimo certamente para os demais países, no particular para os EUA'", disse Temer.
(Reportagem de Laís Martins)