Por Steve Holland e Emily Stephenson
LAS VEGAS, Estados Unidos (Reuters) - O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, não se comprometeu na quarta-feira a aceitar o resultado da eleição presidencial de 8 de novembro caso perca.
A recusa de Trump, definida pela rival democrata Hillary Clinton como apavorante, foi o principal destaque do terceiro e último debate da eleição norte-americana, além de reclamações de Trump de que o pleito está sendo fraudado contra ele.
Perguntado pelo moderador Chris Wallace se não iria se comprometer com uma transição de poder, Trump disse: "o que estou dizendo é que vou dizer isso na hora. Vou manter o suspense. Ok?"
As declarações de Trump podem atrair eleitores que são contra o establishment, mas é pouco provável reverter pesquisas de opinião que mostram Hillary na liderança, incluindo em Estados importantes para a decisão da eleição.
"Esta não é a maneira como nossa democracia funciona", disse Hillary durante o debate. "Temos feito assim por cerca de 240 anos. Tivemos eleições livres e justas. Aceitamos os resultados quando muitas vezes não gostamos deles. E é isto que deve ser esperado de qualquer um neste palanque de debate durante uma eleição geral."
Mais tarde ela disse aos repórteres: "O que ele disse hoje à noite é parte de todo seu esforço para culpar outra pessoa pela situação em que está em sua campanha."
Uma pesquisa relâmpago CNN/ORC mostrou que 52 por cento dos entrevistados acreditam que a ex-secretária de Estado Hillary venceu o debate, enquanto 39 por cento disseram que Trump, que concorre a seu primeiro cargo público, saiu vencedor.
O peso mexicano, visto como um termômetro das perspectivas de Trump, atingiu o nível mais alto em seis semanas ao final do debate, sugerindo uma confiança crescente dos investidores em uma vitória de Hillary.
Trump prometeu construir um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes ilegais e disse que fará o país vizinho pagar pela obra.
REPUBLICANOS EXPRESSAM PREOCUPAÇÃO
Republicanos de destaque logo repudiaram o comentário de Trump no debate.
O senador Lindsey Graham, ex-candidato presidencial republicano que jamais se entusiasmou com o magnata, disse: "Se ele perder, não será porque o sistema está 'manipulado', mas porque fracassou como candidato".
Ben Carson, neurocirurgião aposentado que também disputou a indicação presidencial republicana e hoje apóia Trump, o defendeu. Ele disse que a mensagem do candidato é que "se houver algum tipo de fraude óbvia acontecendo, ele irá dizer algo a respeito".
"Ele não disse que não irá aceitar (o resultado)", disse Carson à Reuters. "Ele disse que irá avaliar na ocasião."
Mas o estrategista republicano Ryan Williams considerou a fala de Trump "profundamente preocupante".
"Você tem que aceitar o resultado da eleição, a menos que haja motivos para uma recontagem, e a esta altura não parece que estejamos a caminho de uma eleição acirrada", disse.
Em um debate que pela primeira vez se concentrou mais em propostas do que em personalidades, os dois postulantes mesmo assim se atacaram.
Trump, de 70 anos, usou uma palavra em inglês para se referir a Hillary que pode ser entendida como "nojenta" ou como "desagradável", e acusou a campanha da democrata de orquestrar uma série de acusações de mulheres que disseram que o empresário fez avanços sexuais indesejados. O republicano disse que tanto Hillary quanto o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estão por trás de distúrbios em seus comícios.
Ele disse que a Fundação Clinton é um empreendimento criminoso e que, como resultado, ela não deveria ter tido permissão de concorrer à Presidência.
Hillary, de 68 anos, disse que o próprio Trump incita a violência, diminui as mulheres e representa um perigo para os EUA.