WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu na terça-feira que parlamentares trabalhem em direção a acordos bipartidários, mas assumiu uma postura linha dura em relação à imigração, insistindo em um muro na fronteira com o México e outras concessões por parte de democratas como parte de qualquer acordo para proteger os filhos de imigrantes ilegais no país.
Trump, durante seu primeiro discurso do Estado da União, não fundamentou a controversa questão sobre proteger ou não de deportação os imigrantes ilegais levados aos Estados Unidos quando crianças, conhecidos como "Dreamers" (Sonhadores).
Visando manter os eleitores conservadores satisfeitos antes da eleição parlamentar de novembro, Trump defendeu diversos princípios opostos por democratas, incluindo um muro de fronteira com o México e novas restrições sobre quantos familiares imigrantes legais podem levar aos Estados Unidos.
"Hoje eu peço que todos nós deixemos nossas diferenças de lado, para buscarmos pontos em comum, e para convocarmos a união que precisamos para atender às pessoas para quem fomos eleitos a servir", disse Trump durante o discurso.
Trump usou o discurso de 1 hora e 20 minutos, feito anualmente pelo presidente ao Congresso, para tentar superar dúvidas sobre seu governo em um momento em que está enfrentando uma investigação sobre supostos laços de sua campanha com a Rússia e sofrendo com baixos índices de aprovação.
O presidente não mencionou a investigação federal que apura se sua campanha conspirou com a Rússia durante a eleição presidencial de 2016, uma polêmica que tem abalando sua Presidência. Trump tem negado qualquer conspiração e chamou o inquérito de "caça às bruxas".
O discurso foi escasso em detalhes sobre as propostas políticas de Trump, mas sua abordagem contida e calculada foi bem recebida pelo público. Uma pesquisa CNN/SSRS mostrou que 48 por cento dos entrevistados tiveram uma reação "muito positiva" ao pronunciamento, e 22 por cento "parcialmente positiva".
Mas houve pouco sinal de união no plenário da Câmara dos Deputados onde Trump discursou. Parlamentares republicanos o ovacionavam intensamente cada vez que o presidente fazia uma pausa, enquanto democratas se mantinham sentados em silêncio, e muitos vaiaram quando Trump delineou suas propostas para a imigração.
COREIA DO NORTE
Ao tratar da política externa no final de sua fala, Trump criticou o caráter da liderança da Coreia do Norte e disse que a "busca irresponsável por mísseis nucleares (por Pyongyang) pode ameaçar nossa terra natal muito em breve".
"Estamos realizando uma campanha de pressão máxima para evitar que isto aconteça", afirmou. Em um momento surpreendente, ele destacou um desertor norte-coreano na plateia, Ji Seong-ho, como exemplo do que chamou de natureza brutal do país recluso.
Trump também disse ter assinado uma ordem para manter aberta a prisão militar norte-americana da Baía de Guantánamo, em Cuba, para suspeitos estrangeiros de terrorismo. O ex-presidente democrata Barack Obama prometera fechar a prisão, que foi criticada por grupos de direitos humanos, mas não conseguiu fazê-lo por completo.
Não ficou nada claro se Trump atenderá seu próprio apelo por harmonia bipartidária. Suas tentativas anteriores de enviar uma mensagem conciliadora foram minadas por seus próprios tuítes rancorosos publicados mais tarde e por comentários provocadores que revoltaram democratas e muitas vezes aborreceram parlamentares de seu próprio partido.
O pedido de união sofrerá seu primeiro teste na tentativa presidencial de chegar a um acordo a respeito da proteção dos 1,8 milhão de "Dreamers", que até o prazo de 5 de março saberão se poderão começar a ser deportados.
Os republicanos saudaram as propostas de Trump para a imigração, e o senador James Lankford, de Oklahoma, disse que Trump tentou encontrar um meio-termo.
"Meus colegas democratas podem dizer que ele não cedeu o suficiente, mas não se pode negar que ele cedeu muito. Há pessoas em sua base que acham que ele cedeu até demais".
Mas Patrick Leahy, democrata de Vermont e senador há mais tempo no cargo, disse que as palavras de Trump sobre união, depois de um ano de "ações divisoras, insultos mesquinhos e ataques raciais infames... soam vazias".
(Reportagem adicional de Richard Cowan, Susan Cornwell, Roberta Rampton, Makini Brice, Eric Beech e Eric Walsh)