Por Flavia Marreiro e Brad Haynes
SÃO PAULO (Reuters) - Principal assessor de política externa do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim disse à Reuters que apoia a inclusão da Argentina nos Brics e defendeu que o grupo de países emergentes, que inclui a Rússia, possa ser um fórum para negociar a paz na Ucrânia.
Ministro das Relações Exteriores nos governos Lula (2003-2010), Amorim participou da fundação dos Brics junto com Rússia, Índia e China. A África do Sul aderiu ao bloco em 2011. Agora, a Argentina pleiteia formalmente ser o sexto membro.
"É bom ter um equilíbrio também dentro dos Brics, ter um papel acrescido para a América Latina", disse Amorim em entrevista, apontando que a relação com os argentinos é a mais "fundamental" para a diplomacia brasileira. "A eventual inclusão da Argentina seria positiva."
O diplomata contou que discute com o ex-presidente petista regularmente questões de política externa, mas frisou que um eventual papel seu num futuro governo ainda não entrou na pauta.
Lula lidera a corrida pela Presidência, mas a vantagem em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) vem se encurtando e está em torno de 4 pontos percentuais.
"É botar a carroça na frente dos bois", afirmou Amorim, sobre discussão de cargos. Não descartou, porém, aceitar ser de novo chefe do Itamaraty, em caso de vitória: "Não tenho nenhuma ambição em relação a isso, mas não posso recusar uma convocação do presidente Lula".
"Tem que ver o que é melhor para o Brasil. E aí tem que ser levado em conta muitos fatores. Eu acho que a idade pode, para alguns, trazer sabedoria, mas a juventude tem energia", ponderou o diplomata de 80 anos, 60 de carreira.
MUNDO MAIS COMPLEXO
Amorim afirmou que o mundo está mais complexo do que quando Lula passou pela primeira vez pelo Planalto. Lembrou igualmente que os Brics têm um peso distinto do que quando o grupo foi criado: a China é agora uma superpotência econômica consolidada e o bloco tem duas das três superpotências nucleares, disse, citando a Rússia.
Sobre a guerra na Ucrânia, o ex-chanceler disse que a Rússia deve ser condenada pela invasão, mas defendeu uma negociação para que o conflito não se arraste. Neste contexto, disse que Lula, se eleito, poderia contribuir para negociações de paz.
"Ele tem condições de participar de um esforço de negociação, que precisa ser liderado pela União Europeia e pelos Estados Unidos, mas com a participação da China, obviamente. E aí o Brasil pode ser também um país importante, cuja voz é ouvida no mundo em desenvolvimento", disse Amorim. "Os Brics como organização podem ajudar."
O ex-chanceler também disse que Lula, se vencer, transformará o Brasil em um protagonista nas negociações climáticas globais, convocando uma cúpula da Amazônia com participação de países da América do Sul e nações desenvolvidas interessadas na preservação --ele citou a França-- no primeiro semestre de 2023.
Em um terceiro mandato, o petista também se empenhará para que o Congresso brasileiro aprove a entrada da Bolívia no Mercosul, contou Amorim.
Um eventual futuro governo também abriria a porta para o Brasil reencontrar diplomaticamente com a vizinha Venezuela, comentou o ex-chanceler, criticando que a linha dura adotada por Jair Bolsonaro e pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump não ajudou na situação venezuelana.
Questionado sobre relatos de violações de direitos humanos na Venezuela e Nicarágua, governos de esquerda com ligações histórica com o PT, Amorim disse: "O que nós pudermos fazer a favor da democracia de maneira respeitosa, não intervencionista, não arrogante, nós faremos", disse o diplomata.