Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro viu as fileiras de seu novo partido, o PL, aumentarem no Congresso, enquanto os rivais de centro-direita para a Presidência lidam com fogo amigo, dando ao titular um impulso à medida que ele se prepara para sua campanha de reeleição.
A decisão de Bolsonaro de se juntar ao PL, no mês passado, ajudou a atrair uma onda de novos membros, tornando-o o maior partido da Câmara, com 75 deputados --bem acima dos 33 eleitos pela legenda na eleição de 2018.
Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com uma larga vantagem nas pesquisas, ainda que ela esteja diminuindo, a prova de popularidade em Brasília é um lembrete de como os poderes do gabinete de Bolsonaro moldarão a corrida.
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Partidos do chamado centrão, que Bolsonaro já classificou como políticos profissionais desonestos, abraçaram o presidente e seus esforços de reeleição desde que um deles, o senador Ciro Nogueira, se tornou seu ministro da Casa Civil em julho, com a palavra final sobre as principais decisões orçamentárias.
“O centrão assumiu Bolsonaro como um projeto político seu,” disse Leonardo Barreto, cientista político da consultoria Vector Análise em Brasília. "Ciro Nogueira se tornou o grande arquiteto da reeleição.”
O PP de Nogueira e o Republicanos também viram suas fileiras aumentarem no Congresso durante a janela de filiação partidária, que se encerrou na sexta-feira. Assim como o PL, esses dois partidos estão no campo político da direita, embora muitas vezes prefiram se referir a si próprios como legendas de centro.
“O fato desses partidos terem atraído gente mostra que eles estão percebendo que a chance maior de ser reeleito é ao lado do Bolsonaro”, afirmou o analista Cristiano Noronha da consultoria Arko Advice. “Tem gente querendo surfar essa onda dele aí.”
Por outro lado, os principais rivais de Bolsonaro à direita se viram em desacordo com seus partidos quando a janela se fechou.
O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, que ganhou fama sendo juiz federal da operação Lava Jato em Curitiba e rompeu publicamente com o presidente em 2020, ingressou no partido União Brasil, de centro-direita, apenas para saber que seus membros resistem à sua candidatura presidencial.
O União Brasil tornou-se brevemente o maior partido na Câmara no ano passado, quando o DEM se fundiu com o PSL, mas viu o número de deputados cair de 81 para 48 quando os apoiadores de Bolsonaro saíram para se juntar a partidos aliados do presidente.
O ex-governador de São Paulo, João Doria, que venceu as prévias do PSDB, chegou a flertar com a desistência da corrida presidencial e permanecer no cargo, segundo a mídia local, atraindo a ira dos aliados.
Por fim, ele reafirmou sua intenção de concorrer à Presidência na quinta-feira. Doria tem aparecido nas pesquisas eleitorais com apenas 2% das intenções de voto, enquanto Moro aparecia com cerca de 8%, com algumas sondagens sugerindo que os votos do ex-juiz iriam em grande parte para Bolsonaro se ele deixasse a corrida.
Mesmo com esses rivais enfraquecidos, Bolsonaro enfrenta uma batalha árdua para a reeleição, já que muitos eleitores continuam irritados com a maneira como ele lidou com a pandemia de coronavírus, juntamente com o aumento da inflação e uma fraca recuperação econômica.
“Ele recuperou um pouco, mas o termômetro não é no Congresso”, diz a cientista política Aline Machado, estudiosa do sistema partidário brasileiro.
Ela destacou a escolha estratégica de Lula do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, de centro, como companheiro de chapa: “Com Lula-Alckmin juntos, acho que Lula ganha, porque implodiu a direita e a terceira via”.
A campanha para o primeiro turno das eleições, marcado para 2 de outubro, começa oficialmente apenas em agosto.