Investing.com - O presidente Jair Bolsonaro realiza uma entrevista coletiva para falar sobre a demissão do ex-juiz Sergio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública (vídeo abaixo). De acordo com tweet do presidente no início da tarde, a entrevista visa “restabelecer a verdade” sobre as demissões de Moro e do ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, que foi o estopim da crise entre o presidente e o ex-ministro.
Moro pediu demissão no final da manhã, acusando Bolsonaro de querer interferir politicamente na PF e em investigações que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) ao decidir pela demissão de Valeixo, além de buscar obter acesso a investigações e relatórios de inteligência da Polícia Federal.
A saída de Moro do governo é a perda de um dos pilares de sustentação do presidente no cargo. Moro assumiu o cargo em janeiro de 2019 com o status de superministro. No entanto, foi perdendo influência com recuos e derrotas desde quando estourou o vazamento de troca de mensagens entre o então juiz e procuradores da Operação Lava Jato, em que havia indício de combinação de ação entre as duas partes.
Além disso, a acusação de tentativa de interferência na PF pelo presidente Bolsonaro pode constituir crime de responsabilidade e pode abrir caminho para processo de impeachment. No momento, 24 pedidos de impeachment estão na mesa do presidente da Câmara Rodrigo Maia.
Pronunciamento de Moro
Em seu pronunciamento de despedida, Moro confirmou que foi chamado na véspera por Bolsonaro para ser avisado que o presidente iria demitir o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Mais do que isso, revelou o agora ex-ministro, o presidente deixou claro que pretendia ter acesso a informações levantadas pela PF em investigações de seu interesse, algo que nem o ministro da Justiça nem o diretor-geral costumam fazer, uma vez que os delegados têm autonomia para tocar os inquéritos.
"Ontem veio essa insistência, eu disse que seria uma interferência política. Ele me disse que seria mesmo", afirmou Moro, ao revelar que negociou por muito tempo com Bolsonaro para evitar a troca no comando da PF.
"O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, colher relatório de inteligência, seja o diretor-geral, seja superintendentes, e realmente não é o papel da PF prestar esse tipo de informação", acrescentou.
Moro citou, inclusive, o período em que era o juiz responsável pela operação Lava Jato no Paraná, lembrando que a independência da PF foi preservada durante as investigações que envolviam o próprio governo do PT.
"As investigações têm que ser preservadas, imaginem se durante a Lava Jato o ministro, o diretor-geral, a então presidente Dilma, o ex-presidente Lula, ficassem ligando para o superintendente em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento?", disse.
Além disso, afirmou o ex-ministro, Bolsonaro revelou a ele ter preocupações com inquéritos que estão no STF.
Atualmente tramitam no STF investigações sobre a criação de "fake news" que podem envolver os filhos do presidente Eduardo e Carlos, e, nesta semana, a corte autorizou a abertura de inquérito para apurar o protesto realizado no domingo, com presença do próprio presidente, no qual manifestantes pediram o fechamento do Congresso e do STF.
Também estão nas mãos do STF os inquéritos que investigam o senador Flávio Bolsonaro, outro filho do presidente por suspeitas de irregularidades financeiras em seu gabinete no período em que foi deputado estadual no Rio de Janeiro.
Em publicação no Twitter após o anúncio de Moro, Bolsonaro disse que vai conceder entrevista coletiva nesta tarde para, segundo ele, restabelecer a verdade sobre as demissões de Moro e Valeixo.
SEM ASSINATURA
Moro, que pareceu estar emocionado em vários momentos do pronunciamento, disse ainda que precisava preservar sua biografia, o compromisso que assumiu de combate à corrupção e ao crime organizado e que não se sentia confortável para continuar no governo.
O ex-juiz federal lembrou mais de uma vez que Bolsonaro lhe prometeu carta-branca para agir quando o chamou para assumir o ministério, em novembro de 2018. Mas desde a metade do ano passado, segundo Moro, Bolsonaro vinha insistindo na saída de Valeixo, começando ainda com a tentativa de trocar e indicar o superintendente da PF no Rio de Janeiro. A PF do Estado está a cargo das investigações que envolvem Flavio Bolsonaro.
Na série de revelações, Moro disse ainda que não assinou a exoneração de Valeixo do comando da PF, apesar de o decreto ter sido publicado nesta madrugada no Diário Oficial com sua assinatura.
"Eu não assinei essa exoneração, fiquei sabendo pelo DO", contou Moro. "Fui surpreendido, achei isso ofensivo. Esse último ato é também uma sinalização de que o presidente me quer fora do cargo."
Segundo o próprio Moro, Valeixo lhe contou que recebeu um telefonema na noite de quinta de uma pessoa do Palácio do Planalto avisando que seria demitido e que a demissão seria publicada como "a pedido", e perguntando se ele teria algum problema com isso. Valeixo disse então que era um detalhe, que ele não concordava com a demissão.
- Com contribuição de Reuters