O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse estar “tranquilo” quanto ao acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid com a PF (Polícia Federal). O ex-chefe do Executivo elogiou o trabalho do ex-ajudante, o qual chamou de “supersecretário”.
“Ele foi de minha confiança ao longo dos 4 anos. Fez um bom trabalho. E tinha aquela vontade de resolver as coisas. O telefone dele, por exemplo, eu chamava de muro das lamentações. Não só militares, mas civis que queriam chegar a mim, vinham através dele”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo divulgada nesta 4ª feira (13.set.2023).
No sábado (9.set.2023), o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), homologou o acordo de delação premiada e concedeu liberdade provisória a Mauro Cid. O militar estava preso por uma investigação que apura inserções de dados falsos em cartões de vacina.
Bolsonaro disse não temer a delação de Cid, principalmente porque o militar não participava de decisões políticas e de governo. Declarou que Cid era um ajudante “de confiança”, que tratava das suas contas bancárias, além de cuidar de algumas demandas da mulher, Michelle Bolsonaro.
“Não tenho [medo]. Ele não participava de nada. Eu estive com o [Vladimir] Putin, por exemplo. Estive com o [Donald] Trump. Éramos eu e o intérprete. Cid nunca estava. Ele agendava, ali, os horários de encontros com chefes de Estado, com ministros, com autoridades, com comandantes de força. Mas nunca participou dessas reuniões”.
Bolsonaro concedeu a entrevista na suíte do hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde se internou para realizar cirurgias na 3ª feira (12.set). Estava acompanhado dos advogados Fabio Wajngarten, Paulo Cunha Bueno e de um assessor pessoal.
Em certo momento, um dos advogados interrompeu e afirmou que Mauro Cid sofreu um “esgarçamento emocional” por ficar preso 4 meses sem denúncia e sem ter como se defender. Bolsonaro disse então que concorda:
“Eu vejo da mesma forma que o advogado fala aí. Não tenho nenhuma preocupação com a minha vida particular. Falam muito das contas da Michelle. Ela está tentando pegar o extrato na Caixa, e a Caixa não dá. Eu até perguntei a ela agora há pouco, quanto dava, em média [os gastos dela], por mês. Não chegava a R$ 3.000. É ridículo”.
“Como um filho”
O ex-presidente disse que sempre tratou Cid como um filho, que está triste pela situação do ex-ajudante e que pretende, em breve, “dar um abraço” no militar.
“O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar. Há uma intenção de nos ligar ao 8/1 de qualquer forma. E o Cid não tem o que falar no tocante a isso porque não existe ligação nossa com o 8/1. Eu me retraí [depois da derrota para Lula], fiquei no Palácio da Alvorada 2 meses, fui poucas vezes na Presidência. Recebi poucas pessoas”, disse.