*por Hanaa’ Tameez
Apesar de cerca de 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo terem algum tipo de deficiência, as Redações estão “lamentavelmente despreparadas” para servir o público ou empregar jornalistas com deficiência, de acordo com jornalistas num painel no Fórum Internacional de Jornalismo IMEDD em Atenas, Grécia, em 28 de setembro.
O painel contou com 3 jornalistas com deficiência –o produtor digital de projetos especiais da BBC, Johny Cassidy, a repórter multimídia da Times Radio, Joana Crawford, e a jornalista grega aposentada Korina Theodorakaki. A mediação foi feita pela editora-chefe assistente para engajamento e inovação do Kansas City Star’s, Hannah Wise.
“Se o nosso objetivo é informar todas as audiências e todas as pessoas da nossa comunidade, devemos fazer com que nossos produtos sejam acessíveis“, disse Wise. “Precisamos tornar nossas redações mais acessíveis e inclusivas, e devemos representar pessoas com deficiência em nosso trabalho”, afirmou.
Jornalistas e empresas de mídia precisam falar abertamente sobre deficiência para poder promover mudanças, disseram os painelistas.
“Quando eu fiquei doente pela 1ª vez [com a Doença de Crohn], foi o meu editor que me levou para a sala de emergência e ficou comigo até que meu pai pudesse chegar de uma viagem de 6 horas”, conta Wise. “O fato de que ele iria me apoiar e que [a empresa faria sua] tarefa de casa para entender mais sobre a doença de Crohn e a maneira como eles me apoiaram foi muito significativa. Eu trabalhei no ‘Dallas Morning News’ por muito mais tempo do que eu inicialmente havia planejado por causa da segurança que eu sentia”, disse.
Jornalistas com deficiência, seus colegas que não possuem deficiência e seus funcionários também precisam ter conhecimento para mudar seus pensamentos e falar sobre o assunto com precisão e cuidado, tanto entre si quanto para sua audiência. Theodorakaki, que é paraplégica e usa uma cadeira de rodas, explica que em algumas línguas as pessoas usam cadeira de rodas para descrever cadeiras para pessoas com deficiência e carrinhos de bebê.
“Palavras carregam sentidos”, disse Theodorakaki. “A forma que escolhemos para nos referirmos a uma pessoa com deficiência esconde um sentido, uma mentalidade… Precisão importa”, disse.
Cassidy é co-presidente do BBC Ability, grupo da rede para funcionários com deficiência. “No dia a dia, as redações precisam priorizar a acessibilidade dos produtos digitais para jornalistas com deficiência, começando no início do desenvolvimento do produto”, afirmou.
“Considerações sobre acessibilidade [normalmente aparecem] no fim”, diz Cassidy. “Nós deveríamos construir ferramentas que tornem mais para os jornalistas criarem acessibilidade… Estou muito entusiasmado com o que a IA pode fazer [pela acessibilidade]. Mas antes de chegar lá, precisamos garantir que as ferramentas dadas aos jornalistas são acessíveis –e desenhadas com pessoas como eu em um papel de conselheiro”, declarou.
Crawford, que tem dislexia, dispraxia e TDAH, disse que, como repórter multimídia, ela divide visualmente tópicos complexos, o que a permite atingir uma audiência mais ampla.
Quando alguém da plateia perguntou se havia empresas de mídia que estavam fazendo isso bem, Wise observou que o TikTok foi uma das primeiras plataformas que ela viu priorizar a acessibilidade, com, por exemplo, uma função de legenda automática.
Cassidy observou que o LinkedIn está reformulando seus recursos para incluir ferramentas de conversão de texto em fala e “isolamento de conteúdo” para tornar as páginas menos distrativas. Se as empresas de tecnologia podem fazer isso, sugeriu Wise, as redações deveriam ser capazes de fazer o mesmo.
O Fórum Internacional de Jornalismo IMEDD é organizado pela Incubadora para Educação e Desenvolvimento da Mídia, organização grega sem fins lucrativos. Você pode assistir à transmissão ao vivo da conferência deste ano aqui.
Hanaa’ Tameez é redatora do Nieman Lab. Antes de começar aqui, ela trabalhou na WhereBy.Us e no Fort Worth Star-Telegram.
Texto traduzido por Giullia Colombo. Leia o original em inglês.
O Poder360 tem uma parceria com duas divisões da Fundação Nieman, de Harvard: o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports. O acordo consiste em traduzir para português os textos que o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports e publicar esse material no Poder360. Para ter acesso a todas as traduções já publicadas, clique aqui.