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Desafio de Lula agora é consolidar a 'frente ampla' no ministério

Publicado 23.12.2022, 08:10
© Reuters Desafio de Lula agora é consolidar a 'frente ampla' no ministério

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva terá uma conversa definitiva, nesta sexta-feira, 23, com a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e vai oferecer a ela, como primeira opção, o Ministério do Meio Ambiente. Simone disse a interlocutores que pode aceitar, desde que não passe na frente da deputada eleita Marina Silva (Rede-SP). Lula afirmou a aliados que, caso não haja acordo para que Marina assuma o novo posto de Autoridade Climática, oferecerá a Simone o Planejamento.

A nove dias da posse, o presidente eleito ainda não completou a equipe de governo. Nesta quinta-feira, 22, ele anunciou 16 ministros, incluindo na lista o futuro vice-presidente Geraldo Alckmin, que será titular de Indústria e Comércio. Lula também apresentou as primeiras mulheres que vão integrar a Esplanada, como Nísia Trindade Lima para Saúde.

O perfil dos nomes mostra que, até agora, Lula escolheu somente aliados de primeira hora do PT e de partidos com quem tem mais afinidade política por não conseguir superar a tempo os inúmeros entraves para abrigar indicados por alas do MDB, do PSD e do União Brasil. Além disso, o petista também aguardava a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição ser aprovada pelo Congresso para medir a fidelidade dos novos apoiadores. Já promulgada, a PEC permite ao governo aumentar gastos para pagar o Bolsa Família.

Em pronunciamento na cerimônia de diplomação, no último dia 12, Lula destacou o papel dos partidos que o apoiaram na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), acenando para uma gestão além do PT para ter governabilidade. A cota petista na equipe, atualmente, está em oito nomes, mas deve chegar a pelo menos dez dos 37 ministérios da Esplanada, no terceiro mandato de Lula.

O maior impasse ainda reside na cadeira a ser ocupada por Simone e nas vagas que devem ser oferecidas ao União Brasil. Lula recebeu, nesta quinta-feira, o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga, além do líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), para tratar da composição do governo.

O MDB terá três ministérios, mas Simone é considerada como um nome da "cota pessoal" de Lula. O senador eleito Renan Filho (MDB), ex-governador de Alagoas, comandará o Ministério dos Transportes. O deputado José Priante (PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho, deve ser a indicação do MDB da Câmara para o cobiçado Ministério das Cidades, a ser recriado.

Simone apoiou Lula no segundo turno e queria Desenvolvimento Social, mas, por pressão do PT, o ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias, ex-governador do Piauí. Foi naquele Estado que Lula lançou o Fome Zero, em 2003. O programa deu origem ao Bolsa Família.

A pasta de Desenvolvimento Social é vista pelo partido como "coração do governo". Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e com um dos maiores orçamentos da Esplanada.

Se depender do comando petista, Marina Silva também não deve voltar a comandar Meio Ambiente porque pode ter novos embates no ministério, sobretudo com o agronegócio. Ministra no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, Marina saiu do governo sob desgaste, em 2008, e se desfiliou do partido. Somente se reaproximou de Lula nesta campanha, por intermédio de Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda.

O desejo de Lula é que ela assuma Autoridade Climática, cargo que ficaria sob o guarda-chuva da Presidência da República. Na campanha, Marina sugeriu ao petista a criação desse posto, mas não planeja ocupá-lo porque o considera muito técnico. Além disso, avalia que Autoridade Climática precisa ficar na estrutura do Meio Ambiente, e não da Presidência.

Desde o início do mês, Lula anunciou titulares para 21 pastas - outros cinco nomes já haviam sido divulgados no último dia 9. Ele ainda precisa escolher 16 ministros.

Nessa temporada, Lula enfrentou a pressão do PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), que queria o Ministério da Saúde, uma espécie de feudo do partido há vários anos. Mas Lula bancou Nísia, a presidente da Fiocruz, que vai herdar uma das pastas mais problemáticas do governo de Jair Bolsonaro.

Na equação difícil de fechar com o centro e o Centrão, o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), ficará com dois ministérios. Um deles é Agricultura, que terá à frente o senador Carlos Fávaro (PSD-MT). O partido também reivindica a vaga de Minas e Energia para o senador Alexandre Silveira (MG), aliado de Pacheco.

Essa cadeira, no entanto, também é cobiçada pelo líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Homem da confiança de Lira, Elmar está de olho, ainda, no Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta à qual a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do Parnaíba e São Francisco (Codevasf) está subordinada. Dona de um orçamento de R$ 3,5 bilhões para 2023, a Codevasf foi a autarquia que mais recebeu recursos do orçamento secreto nos últimos anos, como mostrou o Estadão, protagonizando escândalos de compras superfaturadas.

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