Por Maria Carolina Marcello e Eduardo Simões
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - A avaliação positiva do governo do presidente Jair Bolsonaro subiu e atingiu o maior patamar desde sua posse em janeiro de 2019, alcançando 40%, ante os 29% registrados em dezembro do ano passado, de acordo com pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quinta-feira, uma melhora que teve como motor o auxílio emergencial pago durante a pandemia de Covid-19, segundo analistas ouvidos pela Reuters.
De acordo com o levantamento, a avaliação negativa do governo ficou em 29% ante os 38% do levantamento do final do ano passado, e 29% apontam o governo como regular, contra 31%.
Segundo o relatório da pesquisa, a popularidade de Bolsonaro teve maior aumento entre os entrevistados que cursaram até a 8ª série do ensino fundamental, entre os que têm renda familiar de até um salário mínimo, os residentes das periferias das capitais e os moradores das Regiões Sul e Nordeste.
A elevação da avaliação positiva de Bolsonaro coincide com o pagamento pelo governo federal de um auxílio emergencial de 600 reais para vulneráveis durante a pandemia de Covid-19. Pessoas de renda mais baixa e moradores das periferias estão entre os principais beneficiados pelo programa.
"A principal explicação é o pagamento do auxílio emergencial. Ao final do ano, o governo vai ter pago 322 bilhões de reais em transferência. Isso significa pagar 10 Bolsas Famílias de uma vez, inclusive para muita gente que não estava contemplada no Bolsa Família", disse à Reuters Leonardo Barreto, cientista político e diretor da Vector Análise.
Para o também cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a melhora de avaliação de Bolsonaro não é calcada em bases sólidas. Ele lembra que o auxílio emergencial será pago somente até o final deste ano, e o governo ainda não formulou um novo programa social ou algo para substituí-lo.
"Sem esses recursos, tudo isso pode mudar. Há um agravamento de crise pela frente, os números de vários indicadores nos últimos dias foram péssimos; tudo me parece muito precário. Logo, esses números podem se alterar negativamente, mais uma vez", avaliou.
A pesquisa apontou ainda que 50% aprovam a forma de Bolsonaro governar, ante 41% na pesquisa anterior, ao passo que 45% a desaprovam, contra 53% no final de 2019.
Realizada pelo Ibope e encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a sondagem auferiu ainda a confiança no presidente, e 46% disseram confiar --ante 41% em dezembro-- e 51% afirmaram não confiar --contra 56% na sondagem anterior.
A melhora do desempenho de Bolsonaro na pesquisa acontece apesar de o Brasil ser o terceiro país do mundo com maior número de infectados pelo coronavírus e de a Covid-19 ter matado mais de 137 mil pessoas no Brasil, número inferior apenas ao dos Estados Unidos.
Para Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria, além do pagamento do auxílio emergencial, Bolsonaro também se beneficia de uma estratégia de comunicação que o afasta da responsabilidade pelos indicadores negativos da pandemia.
"A pesquisa reforça o sucesso do presidente em se proteger do ponto de vista político dos desdobramentos negativos decorrentes da pandemia. Essa proteção foi resultado de uma estratégia de comunicação, especialmente na capacidade do presidente de transferir responsabilidade para governadores e prefeitos", disse.
Cortez cita a forma que o presidente tratou a decisão do Supremo Tribunal Federal que reforçou o caráter cooperativo entre os entes para combater a pandemia, mas que sempre é mencionada, de forma incorreta, por Bolsonaro como uma vedação para que o governo federal atuasse em medidas de contenção da pandemia.
POLÍTICAS SOCIAIS
A aprovação da atuação do governo no combate à fome aumentou de 40% para 48%, mesmo movimento percebido na avaliação sobre as políticas e ações na área da Saúde, que passou de 36% para 43%.
Dentre as notícias lembradas espontaneamente pelos entrevistados, a política de distribuição de renda também figura entre o tema das notícias mais lembradas.
A extensão do auxílio emergencial no valor de 300 reais --metade do original-- até dezembro foi mencionada por 8%, ao passo que 7% citaram notícias sobre a suspensão das discussões da criação de um novo programa social, o Renda Brasil, e/ou manutenção do Bolsa Família até 2022.
As queimadas na Amazônia e no Pantanal ocupam a primeira posição entre as notícias mais lembradas pelos entrevistados, tendo sido citadas por 10% dos deles.
"No total, as notícias sobre o auxílio emergencial e o Bolsa Família (discussão no Congresso, redução do valor do auxílio e outras) foram citadas por 20% dos entrevistados", diz o relatório da CNI/Ibope.
O Nordeste, que tem grande número de beneficiados pelo auxílio emergencial e pelo Bolsa Família, segue, no entanto, como o lugar onde Bolsonaro tem o nível mais baixo de apoio, apesar de suas recentes viagens à região.
Essa é a primeira pesquisa CNI/Ibope sobre avaliação do governo Bolsonaro neste ano. Os levantamentos previstos para março e junho foram cancelados por causa da pandemia.
Foram ouvidas 2 mil pessoas entre os dias 17 e 20 de setembro em 127 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.
(Reportagem adicional de Anthony Boadle)