SÃO PAULO (Reuters) -O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira que o cenário externo tem imposto muitos desafios para o Brasil e que 2024 não será um ano fácil para a economia, mas destacou que o país tem "gordura" na política monetária com espaço para possíveis novos cortes nos juros.
Durante o Congresso de Direito Internacional da FGV, em Brasília, Haddad citou as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e a persistência das pressões sobre os preços como complicadores externos, mas disse que o Brasil pode evitar os impactos negativos caso se prepare bem.
"O cenário internacional piorou muito e vem piorando. Depois da Covid-19, o mundo está enfrentando uma guerra na Ucrânia, um conflito no Oriente Médio e um recrudescimento da inflação", disse Haddad.
"Essas coisas podem se resolver, mas enquanto não se resolvem, e não podemos contar com isso, o nosso desafio é promover a conciliação dos Poderes da República em proveito de um projeto nacional", acrescentou.
O ministro afirmou que o país possui uma "janela de oportunidade" para promover o desenvolvimento ao aproveitar suas vantagens comparativas, como a ausência de dívida externa e o potencial da matriz energética brasileira para o avanço de fontes de energia limpas.
"Temos que somar forças nesse momento para aproveitar as nossas vantagens que não são pequenas... Nós temos que tomar as providências já", disse.
"Todo mundo reconhece que 2024 vai ser um ano desafiador. Não se sabe quando as taxas de juros vão começar a cair no mundo, nós temos gordura aqui na política monetária... Nós temos espaço para possíveis novos cortes", acrescentou.
Haddad também comentou em sua fala sobre a reforma tributária, e mostrou confiança de que o Congresso possa concluir os trabalhos em torno das mudanças no sistema tributário brasileiro e aprová-las em definitivo ainda neste ano.
De acordo com o ministro, o atual "caos tributário" é o grande motivo pelo qual o Brasil não tem recebido uma quantia maior de investimentos internacionais apesar do bom momento da economia e a razão de a indústria brasileira "deixar a desejar" em termos de produtividade.
"Não temo dizer que não só nós afastamos o investimento estrangeiro, mas esse caos tributário ele é sem sombra de dúvida a razão pela qual a produtividade da indústria brasileira deixa muito a desejar", disse.
Haddad defendeu que o novo sistema tributário corrija distorções, traga segurança jurídica para investidores e promova a justiça social com tributos que sejam progressivos. Ele ainda destacou a necessidade de um pacto federativo entre a União e os governadores.
No momento, o texto da reforma tributária se encontra no Senado, após ser aprovado pela Câmara dos Deputados em julho. O relator da reforma na Casa, senador Eduardo Braga (MDB-AM), afirmou que sua expectativa é finalizar nesta semana a versão que será apresentada à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
(Por Fernando CardosoEdição de Pedro Fonseca e Alberto Alerigi Jr.)