Com o avanço e a popularidade da inteligência artificial, muito se propagou sobre os impactos que essa tecnologia poderia trazer para o mundo corporativo. Falou-se em desemprego em massa, por exemplo. A escritora israelense Inbal Arieli discorda em parte dessas premissas. Segundo ela, os humanos têm habilidades que nunca poderão ser reproduzidas por um computador.
“A IA substituirá algumas pessoas. Mas minha aposta é que existe um conjunto de habilidades e capacidades que nos permitem ter uma vantagem competitiva hoje. Talvez não daqui a 100 anos, mas hoje”, disse ela em entrevista ao Poder Empreendedor.
Inbal deu alguns exemplos de atividades que somente pessoas de verdade conseguem desenvolver: inteligência emocional, cultura criativa, pensamento crítico e influência social. Esse tipo de habilidade, aquela que não se aprende somente com a vivência, é chamada de soft skill.
A escritora diz ser fundamental “abraçar” as tecnologias no ambiente de trabalho e no empreendedorismo. Segundo ela, o cenário presente exige a capacidade de se adaptar às novas ferramentas.
“A tecnologia tem um papel crítico. Não podemos ignorar isso. E vai ter um papel mais e mais crítico com o passar do tempo”, declarou.
Inbal ainda fez análises para o cenário global: “A maioria dos países ao redor do mundo já entende que a tecnologia, a inovação e o empreendedorismo são o futuro. Sem isso as suas economias terão dificuldades”.
CHUTZPAH
Inbal Arieli, 48 anos, tem uma carreira vasta no mercado de inovação e empreendedorismo:- 2010 – fundou o 1º acelerador de startups de Israel, o 8200 Entrepreneurship and Innovation Support Program;
- 2012 – criou a Gammado, empresa de inovação com objetivo de selecionar talentos capacitados em tecnologia. A companhia foi vendida em 2014 para uma empresa norte-americana;
- 2017 – lançou a assessoria em liderança Synthesis. Vendeu a companhia para os EUA em 2022.
A palavra hebraica “Chutzpah” (pronuncia-se “rutspá”) não tem uma tradução específica no idioma dos brasileiros. Trata-se de uma ideia de ousadia e audácia na hora de defender uma ideia.
Inbal define o termo da seguinte maneira: “A combinação de ser valente no sentido de sair da zona de conforto enquanto pensa grande e não tem medo de cometer erros”. Comparou ao ato de uma criança andar pela 1ª vez: “Levantamos. Caímos. Falhamos e tentamos de novo. Falhamos 1 milhão de vezes, mas conseguimos”.
A escritora conta que as crianças de Israel são majoritariamente imersas no Chutzpah. Os pais incentivam os filhos a defenderem suas ideias e baterem o pé em determinadas situações. Dão limites, mas também não tiram completamente a liberdade.
Inbal diz que esse sentimento é uma das razões que promovem o crescimento de Israel como um centro de inovação e empreendedorismo, especialmente por meio de startups. Os cidadãos de lá não têm medo de apresentar suas ideias para o mundo, relata.
Junte o Chutzpah aos avanços tecnológicos e ao bom sistema de inovação de Israel e têm-se uma receita para o sucesso, afirma a escritora. “Não é suficiente ter liberdade. Há muitos outros fatores importantes. Tem boa educação, tecnologia para que essas mentes criativas possam usar de formas criativas”, falou.
A cidade Tel Aviv é o 4º maior ecossistema de startups do mundo. Leia o top 5, segundo um levantamento do Startup Genome:
- 1º lugar – Silicon Valley (EUA);
- 2º lugar – Londres (Reino Unido) e Nova York (EUA);
- 3º lugar – Los Angeles (EUA);
- 4º lugar – Tel Aviv (Israel);
- 5º lugar – Boston (EUA).
EXTREMISMO, PROTESTOS E INVESTIDORES
Israel passa por momentos políticos intensos. Desde janeiro, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vem tentando passar projetos de lei que lhe dariam mais controle sobre a seleção dos juízes da Suprema Corte e restringiriam a capacidade do Tribunal de anular decisões do Parlamento –majoritariamente da sigla governista. A iniciativa desencadeou uma onda de protestos em todo o país, dos quais Inbal Arieli participou.A escritora afirma que o momento político pode atrasar o desenvolvimento da inovação em seu país. Ela defende que esses momentos não só tiram os focos das discussões como também repelem investidores internacionais para o ecossistema de startups israelense.
Como o país é pequeno, sua economia depende dos investidores estrangeiros. Inbal conta que 85% do financiamento das startups de Israel vem do exterior, especialmente dos Estados Unidos.
“Independentemente do que [os investidores] acreditam, eles veem incerteza que Israel nunca viu antes”, declarou.
Inbal diz que o extremismo político não traz danos econômicos somente a Israel, mas a qualquer país que veja “rachaduras” relacionadas à forma como governa. “A polarização por nenhuma razão… Tanta energia é desperdiçada”.