O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, deve se reunir com o embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, nesta 6ª feira (23.fev.2024), no Rio de Janeiro. O encontro será fechado e não haverá ato público, já que o Itamaraty tenta não por mais lenha na fogueira da crise diplomática entre Israel e Brasil depois das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último domingo (18.fev).
No fim de semana, o petista comparou os ataques israelenses na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler (1889-1945) na 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
O governo do Brasil convocou o embaixador brasileiro a voltar para o país na 2ª feira (19.fev). Segundo documento ao qual o Poder360 teve acesso, Meyer foi chamado “para consultas”, deixando o posto sem um titular por ora.
O diplomata participou de uma reunião com o ministro de Relações Exteriores israelense, Israel Katz, no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Em seus perfis nas redes sociais, Katz criticou a fala de Lula e disse que o presidente brasileiro é uma “persona non grata” até que peça desculpas.
A atitude do chanceler israelense irritou a diplomacia brasileira. A percepção foi de que o governo israelense estava tentando forçar uma escalada ainda maior da crise diplomática. A reunião no Museu do Holocausto foi uma quebra de protocolo, porque deveria ter sido privada entre os dois diplomatas. No entanto, foi pública e com a presença da mídia.
Além disso, o ministro israelense falou em hebraico, sendo que o embaixador brasileiro não entende o idioma. O diplomata, Lula e o governo do Brasil foram repreendidos em público numa língua que não entendem, o que foi considerado um ato de grande desrespeito pelo Itamaraty.
Para o Brasil, a atitude “não existe” na diplomacia e o fato “não ajuda” na resolução da rusga diplomática. A diplomacia brasileira avalia que tudo seria uma tentativa de escalar ainda mais a tensão internacional com o Brasil.
Sem misturar as coisas
Havia a expectativa de alguns integrantes do Palácio do Planalto de que o encontro entre Vieira e Meyer fosse ainda nesta 5ª feira (22.fev), mas o Itamaraty quer ter foco total na cúpula de chanceleres do G20, que acontece até esta 5ª no Rio de Janeiro.
A estratégia da diplomacia brasileira é diminuir a temperatura da tensão com Israel durante o encontro das 20 maiores economias do mundo no Brasil. A avaliação é que o governo deu respostas à altura do que chamam de “provocações” do governo de Benjamin Netanyahu e o momento agora é de arrefecer.
Integrantes do governo ainda analisam qual o grau de desgaste entre os 2 países. A expulsão do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, chegou a ser aventada, mas, por enquanto, não deve ser efetivada. Isso porque a medida é considerada gravíssima e poderia levar ao rompimento de relações.
A ideia, porém, está posta para o caso de Tel Aviv escalar ainda mais crise e aumentar o tom das cobranças a Lula. Tal decisão, porém, só seria tomada após a reunião de chanceleres do G20, que termina nesta 5ª feira (22.fev). É o 1º grande evento da cúpula no Brasil.