BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda-feira que não fez nenhuma remessa para offshore "em nenhum momento" desde que entrou no governo, e que era importante esclarecer o tema para seguir em diante com agenda.
"Está tudo declarado, inclusive tinha um acesso público pelo site do Senado", afirmou ele, em live promovida pelo jornal Valor Econômico, após ser questionado se gostaria de fazer algum comentário a respeito do tema.
"Eu não fiz nenhuma remessa para empresa em nenhum momento desde que cheguei ao governo e não fiz nenhum investimento financeiro em nenhuma empresa. Então eu acho que a gente colocou isso numa mensagem, está bastante claro. E é importante explicar, esclarecer obviamente e seguir em diante com nossa agenda", acrescentou.
Um vazamento de documentos financeiros publicados por várias organizações de notícias no domingo revelou uma suposta ligação de líderes e autoridades de todo o mundo a riquezas acumuladas em paraísos fiscais, entre eles o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do BC.
O Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), uma rede de repórteres e organizações de mídia sediada em Washington, disse que os arquivos estão ligados a cerca de 35 líderes nacionais atuais e antigos e mais de 330 políticos e autoridades públicas de 91 países e territórios.
Segundo a revista piauí, que integra o consórcio de veículos que se debruçou sobre os documentos vazados, Campos Neto é dono de quatro offshores. Registradas no Panamá, Cor Assets e ROCN Limited tinham como objetivo declarado investir em ativos financeiros do Santander (SA:SANB11) Private Bank, de cujo conselho consultivo Campos Neto participou em seu passado profissional.
Completam a lista a Peacock Asset Ltda, gerida pelo banco Goldman Sachs (NYSE:GS), e a Darling Group, de gestão de bens imóveis.
A posse de uma empresa no exterior não é ilegal desde que declarada à Receita Federal ou ao BC. Mas o caso levantou questionamentos acerca de conflitos de interesses, já que o Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe que autoridades invistam "em bens cujo valor ou cotação possa ser afetado por uma decisão ou política governamental” em razão do cargo ocupado e pelo fato de possuírem informação privilegiada.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) informou nesta segunda-feira que vai abrir apurações preliminares para investigar as offshores ligadas a Guedes e a Campos Neto.
Após a notícia, o dólar futuro, cujos negócios vão até as 18h (de Brasília) na B3 (SA:B3SA3), acelerou a alta para mais de 5,48 reais, com agentes avaliando o vazamento dos documentos sobre a existência das offshores como potenciais dificultadores para a evolução no Congresso das pautas econômicas do governo.
Guedes defendeu, via assessoria de imprensa, que não cometeu qualquer irregularidade e que toda sua atuação privada havia sido devidamente declarada à Receita, à Comissão de Ética Pública e aos demais órgãos competentes.
Antes da live do Valor, o presidente do BC também já havia dito, através da assessoria, que fizera o mesmo, "com recolhimento de toda a tributação devida e a tempestiva observância de todas as regras legais e comandos éticos aplicáveis aos agentes públicos".
(Por Marcela Ayres)