Por Ricardo Brito e Eduardo Simões
BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - A Polícia Federal cumpre nesta quarta-feira mandados de busca e apreensão contra aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro no âmbito do inquérito que apura ataques e notícias falsas contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), e entre os alvos da operação estão o ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e o empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan.
A PF não informou quais eram os alvos da operação, pois o inquérito corre sob sigilo, mas os nomes de Jefferson e Hang foram confirmados à Reuters por duas fontes com conhecimento das investigações, e os dois se manifestaram confirmando a operação.
A PF disse que está cumprindo 29 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.
As diligências foram determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, que preside o inquérito, aberto pelo presidente da corte, Dias Toffoli, em março do ano passado para apurar notícias falsas e ameaças contra ministros do tribunal. A abertura do inquérito por iniciativa de Toffoli foi alvo de críticas, já que o comum é que inquéritos sejam abertos pelo Judiciário atendendo a pedidos de outros órgãos.
Em transmissão ao vivo no Facebook, Hang disse que foi alvo de mandados nesta quarta em sua casa e em seu escritório e que seu telefone celular e seu computador pessoal foram apreendidos pelos agentes. O empresário disse ainda que a investigação vai provar que ele não produziu notícias falsas contra ministros do STF.
"Jamais atentei ou fiz fake news contra o STF", disse.
No Twitter, Roberto Jefferson comparou a operação desta quarta a uma ação do "Tribunal do Reich", em referência ao regime nazista alemão comandado por Adolf Hitler.
"Com um mandado de busca e apreensão, expedido contra mim por Alexandre de Moraes, STF, para aprender meus computadores e minhas armas. Atitude soez, covarde, canalha e intimidatória, determinada pelo mais desqualificado ministro da corte. Não calarei. CENSURA", escreveu na publicação, acompanhada da foto do mandado expedido por Moraes.
O blogueiro Allan dos Santos, do site Terça Livre, e Sarah Winter, do grupo 300 Pelo Brasil, de inspiração paramilitar de apoio a Bolsonaro, também disseram ter sido alvos da operação da PF nesta quarta.
Ele afirmou a jornalistas na porta de sua casa que as investigações contra ele irão desmoralizar o Supremo.
"Vai ser patético para a Suprema Corte. Eles vão revirar todos os documentos da Terça Livre, vão ver que a gente vive de todos os produtos que a gente vende", afirmou.
Sarah Winter, por sua vez, disse que seu celular e notebook foram apreendidos pelos policiais federais e atacou Moraes.
"A Polícia Federal acaba de sair da minha casa. Bateram aqui às 6h da manhã a mando do Alexandre de Moraes. Levaram meu celular e notebook. Estou praticamente incomunicável! Moraes, seu covarde, você não vai me calar!!", escreveu ela no Twitter.
DEPUTADOS BOLSONARISTAS
De acordo com uma fonte com conhecimento do assunto, Moraes também determinou que deputados federais e estaduais bolsonaristas sejam ouvidos no âmbito do inquérito.
Devem ser ouvidos em 10 dias os parlamentares federais do PSL Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Daniel Silveira (RJ), Filipe Barros (PR), Junio Amaral (MG) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), além dos deputados estaduais paulistas Douglas Garcia e Gil Diniz.
Garcia, cujo gabinete foi alvo de mandado de busca e apreensão, disse que a operação desta quarta apequena a PF.
"Acabo de receber a notícia pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo que o meu gabinete está recebendo a visita da Polícia Federal", afirmou Garcia em vídeo publicado no Twitter.
"De acordo com tuíte divulgado pela própria Polícia Federal estamos sendo investigados por ataques, crimes, alguma coisa relacionada aí a críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Ora, eu sou deputado, eu fui feito para parlar, eu sou parlamentar através da minha prerrogativa que a Constituição me dá. Em opiniões e palavras de voz, eu posso criticar quem eu quiser", afirmou ele.
Ao sair do Palácio da Alvorada nesta manhã, Bolsonaro disse, sem comentar os mandados de busca e apreensão determinados por Moraes, que mais operações ocorrerão enquanto ele for presidente.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), ambos filhos do presidente, por sua vez, criticaram a operação desta quarta pelas redes sociais.
A assessoria de imprensa do Supremo declarou não ter informações sobre os mandados desta quarta-feira e lembrou que o inquérito corre sob sigilo de Justiça.
(Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)