Por Luana Maria Benedito
(Reuters) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira que acredita que a recalibragem da taxa Selic para um patamar mais baixo já poderia ter iniciado e que ponderar as decisões do Banco Central não é algo "político".
"Eu acho que já poderíamos iniciar a recalibragem da taxa de juros; acho que a projeção da inflação do ano que vem está muito moderada, por causa desse esforço todo que o Banco Central fez, e que agora o governo está fazendo, de debelar a crise fiscal herdada do governo passado", disse Haddad em entrevista à Rádio CBN.
Na véspera, o ministro já havia dito ter ficado "bastante preocupado" com a decisão do Banco Central nesta semana de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, nível elevado que tem sido criticado repetidamente pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Haddad afirmou nesta sexta-feira à CBN que o BC tem "uma institucionalidade e técnicos extremamente qualificados", mas que isso não livra a autoridade monetária de ser questionada. "Não podemos cair no erro de que tudo que coloca um ponto de reflexão sobre a atuação da autoridade monetária é político. Não é político, eu estou falando tecnicamente", disse ele ao defender uma redução nos custos dos empréstimos.
Em meio a especulações sobre possível indicação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, a cargo na diretoria do Banco Central, Haddad afirmou que o governo não antecipa esse tipo de decisão, acrescentando que os nomes serão anunciados quando a escolha estiver "madura".
O ministro disse que Galípolo é seu "braço direito" e poderia assumir "qualquer função" dentro do governo.
TABELA DO IR
Haddad comentou nesta segunda-feira a decisão do governo de ampliar para 2.640 reais a faixa de isenção do Imposto de Renda para Pessoa Física, alertando que será desafiador alcançar a promessa de campanha de Lula de elevar esse teto para 5 mil reais.
"Eu não tenho resposta para chegar até 5 mil reais hoje. Eu tenho a resposta para continuar avançando, o ano que vem dar um pouco a mais, passar de 3 mil. Chegar em 4 mil em 2025, eu acho que é possível", avaliou. "Estamos com alguma folga, porque para os dois próximos anos nós estamos relativamente programados, mas para chegar nesse patamar (5 mil) é muito desafiador."
Ao mesmo tempo, Haddad disse que chegar a 5 mil reais de isenção é uma determinação de Lula e que trabalhará para alcançá-la.
O ministro disse que a recente alta na faixa de isenção do IR só foi possível graças à decisão do governo de taxar rendimentos de aplicações financeiras no exterior, e prometeu continuar trabalhando para combater "aberrações tributárias".
Uma das frentes de atuação de sua pasta nesse sentido tem sido a tentativa de taxar o setor de apostas online. Haddad afirmou nesta sexta que a proposta de tributação dos chamados "bets" foi enviada na véspera à Casa Civil e deve ser acertada quando Lula -- que está fora do país para visitas oficiais -- voltar de viagem.
Haddad também voltou a dizer que o programa Desenrola de renegociação de dívidas de pessoas de baixa renda -- promessa de campanha de Lula -- está dependendo da conclusão de um sistema operacional para ser lançado. O ministro estimou que o país estará "às vésperas" do lançamento do programa dentro de 60 dias.
(Reportagem adicional de Fernando Cardoso)