Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - Na primeira campanha eleitoral brasileira em mais de uma década sem o X, antigo Twitter, equipes de marketing dos candidatos tiveram que se adaptar à suspensão da rede social e admitem que, mesmo sem impactos que possam mudar o rumo das eleições, houve prejuízos em uma disputa política cada vez mais digital.
Apesar de não ser a mais usada no país, e vir perdendo usuários nos últimos anos, o Twitter era uma rede social fundamental para se tomar o pulso da reação dos eleitores -- o que está viralizando, a reação das pessoas a postagens e falas dos candidatos, segundo estrategistas.
A ex-deputada Manuela D'Ávila, que hoje cuida das redes sociais de Guilherme Boulos, candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo, explica que o deputado federal tinha uma conta no X muito engajada, com mais de 1,5 milhão de seguidores, e onde havia a possibilidade de postagens com repercussão imediata.
"Tem uma perda do público que forma muito opinião, que acompanha muito de perto, e forma uma repercussão muito mais rápida. Tem uma perda nesse sentido", afirma.
A rede social do bilionário Elon Musk foi proibida no Brasil no fim de agosto por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em decisão posteriormente confirmada por unanimidade pela Primeira Turma da corteo. A sanção decorre de um longo e público embate entre Moraes e Musk, que repetidamente se recusou a cumprir ordens judiciais no Brasil.
Nesta sexta-feira o X informou que pagou 28,6 milhões de reais em multas estabelecidas pelo magistrado e pediu permissão para voltar a operar no Brasil. A decisão final sobre o retorno da rede social, no entanto, segue pendente.
O publicitário Sérgio Lima, que integrou a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022 e é atualmente responsável por cinco campanhas do Republicanos no interior de São Paulo, também avalia que a retirada do ar do X impactou a capacidade de avaliação das campanhas.
Lima afirma que a rede é a que melhor consegue, a partir de dados de geolocalização, filtrar os assuntos em discussão na corrida eleitoral, chegando, em sua opinião, a dar sinalizações sobre a intenção de voto dos candidatos.
Além disso, explica, as campanhas tiveram que se reestruturar para fazer contato com a imprensa, por exemplo. Informações como agendas dos candidatos, antes colocadas no Twitter, migraram novamente para o e-mail e redes como WhatsApp.
Pablo Almada, sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP), explica que, apesar de o X não ter a maior rede de usuários no país, eles eram bastante engajados, o que permitia reações em tempo real e um acompanhamento mais de perto dos rumos das campanhas.
"Vimos que, de certo modo, o X funcionava como uma espécie de segunda tela. Então, muitas vezes, tinha um debate na televisão, e rolava uma grande quantidade de manifestações que são feitas pelo X", disse.
"É muito mais difícil fazer o monitoramento de uma eleição sem o X. A gente conseguia com mais força entender a temperatura do pleito, porque você tinha pelo menos posições contrárias que poderiam ser visualizadas dentro da rede social."
Sem o X, as campanhas migraram sua atuação para outras plataformas, especialmente o Instagram. Foi o caso de Guilherme Boulos, que já tinha uma atuação forte na rede, com 2,5 milhões de seguidores. Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição em São Paulo, abriu uma conta na rede.
Também o Facebook (NASDAQ:META), que andava um pouco esquecido nos debates políticos no Brasil, ganhou espaço, com mais postagens próprias feitas pelos candidatos e um aumento considerável de investimentos em anúncios por parte das campanhas.
Bruno Oliveira, gerente de uma campanha em Natal (RN), explica que o Facebook ganhou espaço porque a plataforma é a única, depois da suspensão do X, que aceita anúncios pagos de campanhas, depois que o Google (NASDAQ:GOOGL) decidiu que não o faria.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito; Reportagem adicional de André Romani, em São Paulo)