A Leitura, maior rede de livrarias do Brasil, tem tido suas vendas influenciadas pelas comunidades de leitores nas redes sociais. O presidente da empresa, Marcus Teles, deu destaque para o TikTok, Instagram e YouTube.
“Isso também tem ajudado no crescimento da venda de livros, principalmente dos jovens”, disse o empresário em entrevista ao Poder Empreendedor.
Essas comunidades geralmente compartilham os livros mais populares do momento. Alguns dos mais vendidos no Brasil foram resenhados em massa pelos internautas. Um deles foi “É assim que acaba”, da norte-americana Colleen Hoover, com 74.649 cópias vendidas no Brasil em 2023, segundo a PublishNews. No TikTok, a obra é uma febre e conta com vídeos que acumulam milhões de visualizações.
A estratégia da rede social de vídeos curtos de se posicionar como um local de aprendizado, diminuindo o engajamento das “dancinhas”, também é favorável à divulgação dos livros.
Marcus disse que séries de livros, popularizadas a partir de obras como Harry Potter e Crepúsculo, ainda representam uma fatia significativa de vendas da Leitura. “Antes, você via mais o jovem lendo livros que a escola mandou para fazer uma prova. Hoje, eles não apenas acham os livros nos seus filmes prediletos, mas também nas mídias sociais, por indicação de amigos”, declarou.
Assista (2min27s):
A entrevista também foi transmitido no Canal Empreendedor, do Grupo Bandeirantes.
O presidente da Leitura estima que a livraria termine 2023 com 10 milhões de livros vendidos. Segundo ele, o número representa 60% do faturamento estimadas para o ano. Outros 30% são referentes a materiais escolares e o resto, a “produtos agregados”.
Sobre o faturamento, o empreendedor disse que o objetivo é aumentar em 20% em 2023. Ele não compartilhou o valor concreto da receita de sua empresa.
As vendas nas lojas que já estavam abertas a 1 ano registraram crescimento de 10%. As novas, de 15%.
Segundo um relatório do painel do livro (PDF, íntegra – 511 kB), 52,84 milhões de livros foram comprados no Brasil em 2022. O número representa uma variação positiva em 2,64% ante o ano anterior, quando as vendas chegaram a 51,48 milhões de unidades.
O faturamento no setor também foi maior: R$ 2,27 bilhões. Variação de 7,56% ante igual período. Fechou em R$ 2,11 bilhões em 2021. O preço médio de um livro era de R$ 41,20.
DE MINAS PARA O BRASIL
Marcus relata que a livraria Leitura começou em 1967 como um pequeno negócio na Galeria Ouvidor, complexo no centro de Belo Horizonte (MG). Se expandiu a partir da década de 2000 a partir de Estados do Centro-Oeste e do Nordeste.A expansão mais intensa se deu na década seguinte, quando a Leitura chegou a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Um dos fatores que possibilitou a entrada da companhia nesses locais foi o enfraquecimento de outras varejistas do ramo, segundo Marcus.
“Já tinha outras redes bem consolidadas que tiveram problemas financeiros e dívidas. Estavam operando com prejuízo e entraram em recuperação judicial a partir de 2018. Nós vimos que tinha espaço”, declarou.
A fala se refere especialmente a duas redes que decaíram ao longo dos anos: Saraiva (BVMF:SLED4) e Cultura. Ambas tiveram resultados financeiros insatisfatórios e tiveram a falência decretada pela Justiça.
Marcus conta que metade das novas lojas da empresa foram instaladas em pontos onde ficavam as empresas que perderam o espaço. Segundo ele, um dos fatores mais decisivos para a decadência das duas concorrentes foi o crescimento do e-commerce.
O empresário disse que empresas de comércio on-line usam a estratégia de vender livros com prejuízo para crescer. Depois de conquistar clientes, ofertam produtos diferentes e assim passam a lucrar. Livrarias não conseguem competir com essa estratégia, pois não têm outros itens para vender. Entenda mais nesta reportagem.
Marcus escolheu passar longe de tentar competir com marcas como a Amazon (NASDAQ:AMZN). A Leitura até tem um site para venda de livros, mas não recebe tanto investimento quanto as livrarias físicas, contou.
“A loja on-line cresce mais. Mas nós estamos conseguindo crescer de um modo correto, com venda sem ser deficitária.”
O executivo afirma que ainda há muito apelo para os clientes irem às lojas físicas, como a curadoria dos funcionários ou a possibilidade de conhecer novas obras.
“As novidades são achadas, principalmente, e mais vendidas nas livrarias físicas. Pessoas gostam de visitar uma livraria e passear entre os livros, conhecer as novidades, olhar as capas.”
Assista à entrevista com Marcus Teles (28min45s):
PLANOS PARA O FUTURO
Atualmente, a leitura conta com 108 lojas abertas. Cerca de 30 tem de 800 m² a 1.000 m², chamadas de mega stores. As outras são menores, de 200 m² a 300 m².Marcus diz que o custo para manter uma loja grande é maior, uma das razões para investir menos nesse tipo de estabelecimento. A Cultura era conhecida por manter estabelecimentos de área mais ampla –o que aumentou as despesas, por exemplo.
A expectativa da Leitura é abrir 11 lojas e fechar uma em 2024. Ou seja, o saldo será de 10 lojas até o final do ano.
Sobre a possibilidade de lançar um leitor digital, como o Kindle, Marcus Teles afirmou que eventualmente pode firmar uma parceria com uma empresa que já fabrica esses dispositivos.
“É um investimento muito grande você desenvolver um próprio aparelho. Se a gente entrar nos aparelhos vai ser via alguma parceria com outra empresa internacional que já produz.”
Segundo ele, a leitura digital não vai ocupar o lugar do livro físico. “Tem a portabilidade, a velocidade de acessar, mas a maioria das pessoas continua preferindo ler o livro impresso e muitos inclusive compram um livro digital, começam a ler lá uma parte do livro e terminam no livro impresso. Então é complementar”, disse.
RAIO-X DA LEITURA
- natureza jurídica – Sociedade Limitada;
- regime tributário – depende da loja. A maioria é Lucro Real e algumas, Lucro Presumido. Nenhuma é do Simples Nacional;
- nº de funcionários – 2.500;
- sede da empresa – Belo Horizonte (MG);
- vendas em 2023 – expectativa de 10 milhões de livros;
- nº de lojas – 108;
- site.