Os aeronautas da Latam aceitaram que o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) inicie negociações com a empresa para a redução permanente dos salários da tripulação, na esteira da crise provocada pela pandemia da covid-19. A deliberação em favor das conversas saiu na sexta-feira, 2, com o fim de uma votação interna com os associados.
A Latam e a categoria travam uma disputa há meses por causa do tema. Enquanto Gol (SA:GOLL4) e Azul (SA:AZUL4) negociaram com seus tripulantes reduções temporárias por causa da pandemia, a Latam quer cortar em definitivo os salários. A argumentação da empresa é que, por ser a mais antiga, tem salários superiores. A categoria, entretanto, havia negado qualquer tipo de conversa nesta direção até então e, no fim de julho, a Latam anunciou a demissão de 2,7 mil tripulantes.
O tema ganhou um novo capítulo no dia 22 do mês passado, quando a Latam informou que ainda tinha um excesso de 1,2 mil tripulantes e que sem um acordo para redução permanente de salários iria promover novas demissões.
Também no dia 22 o SNA foi intimado pela Justiça do Trabalho a fazer um novo levantamento com a categoria sobre as propostas da Latam. A imposição saiu em um despacho do ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Luiz Philippe Vieira de Mello Filho. No documento, o ministro deu dez dias ao sindicato para submeter a proposta da Latam para manifestação da categoria.
Em votação online realizada nos dias 1º e 2 de outubro, os tripulantes associados da Latam Airlines Brasil deliberaram por autorizar que a diretoria do SNA negocie com a empresa mudanças permanentes no modelo de remuneração. Entre os comandantes, 65,5% foram favoráveis ao início das conversas. Já entre os copilotos e comissários os porcentuais favoráveis foram de 65,4% e 55,7%, respectivamente.
"Diante deste resultado, o SNA irá apresentar a resposta da categoria para o TST (Tribunal Superior do Trabalho), mediador da negociação com a Latam, que encaminhará os próximos passos", disse o SNA, em nota publicada no portal da categoria.
Recuperação judicial
O grupo Latam está em recuperação judicial ("chapter 11") e conseguiu recentemente uma linha de financiamento de US$ 2,4 bilhões com credores e controladores nos Estados Unidos. A empresa tem até o fim de janeiro para apresentar um plano de recuperação aos credores.
Em entrevista recente ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o presidente da Latam no Brasil, Jerome Cadier, destacou que o tamanho futuro da empresa no País estaria diretamente ligado ao sucesso das negociações com a tripulação. A empresa tem sido mais prejudicada do que suas concorrentes no Brasil diante da sua forte presença no mercado internacional, segmento que tem reportado recuperação pífia na demanda por causa do fechamento de fronteiras e medidas de quarentena.