Por Alberto Alerigi Jr.
SÃO PAULO (Reuters) - A Americanas (BVMF:AMER3) finalmente publicou seus resultados dos últimos dois anos, após uma série de adiamentos, revisando o lucro líquido de 544 milhões de reais registrado em 2021 para prejuízo de 6,2 bilhões de reais. A empresa também calculou em 12,9 bilhões de reais o resultado negativo de 2022.
O prejuízo do ano passado deve-se a "fraco desempenho operacional, elevada despesa financeira e relevantes lançamentos extraordinários", disse a companhia, reafirmando que foi "vítima de uma fraude sofisticada" durante a gestão anterior, que comandou a rede de varejo por cerca de duas décadas.
A divulgação dos balanços é importante para que os principais credores da Americanas -- que incluem bancos como Bradesco (BVMF:BBDC4), Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), BTG Pactual (BVMF:BPAC11), Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) e Santander Brasil (BVMF:SANB11) -- possam dar andamento às discussões para aprovação do plano de recuperação judicial da companhia.
A proposta atualmente prevê uma capitalização de 12 bilhões de reais em dinheiro na empresa pelos chamados "acionistas de referência", o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles.
A Americanas tem a expectativa de que a Assembleia Geral de Credores seja realizada ainda em 2023.
A Americanas, responsável por um dos maiores pedidos de recuperação judicial da história do Brasil, também revisou o resultado operacional medido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de 2021 de cerca de 2,1 bilhões de reais positivos para 3,4 bilhões negativos. Em termos recorrentes, o Ebitda de 2021 passou de 2,3 bilhões de reais positivos para 1,8 bilhão negativo.
O Ebitda de 2022 ficou negativo em 6,2 bilhões de reais, sendo que o recorrente ficou em 2,9 bilhões também negativos, conforme os dados divulgados nesta quinta-feira.
Segundo a companhia, "os números das demonstrações financeiras também refletem, agora, a estimativa mais realista e transparente da realização dos ativos e passivos da companhia, com a necessidade de ajustes e provisões adicionais".
A companhia ainda divulgou projeções para 2025 levando em conta uma eventual aprovação do plano de recuperação judicial atualmente sendo negociado com os principais credores da empresa.
Segundo a Americanas, a expectativa é de Ebitda de mais de 2,2 bilhões de reais em 2025, com uma alavancagem medida pela relação dívida líquida/Ebitda menor de 0,75 vez.
Na B3 (BVMF:B3SA3), as ações da companhia chegaram a disparar 11,25% nesta quinta-feira. Por volta de 10:50, avançavam 7,50%, a 0,86 real. Antes do escândalo contábil, era negociada ao redor de 12 reais.
A empresa afirmou que o plano "estratégico" de recuperação da empresa é focado "na fortaleza e resiliência do canal físico, complementado pela excelência operacional do digital", de maneira semelhante como rivais como Casas Bahia e Magazine Luiza (BVMF:MGLU3), que estão centrando esforços já há alguns anos em complementar operações de lojas físicas com eficiências geradas por operações online.
A Americanas também afirmou que o plano será complementado por um "portfólio de serviços financeiros customizados da (fintech) Ame e pela diversidade de mídia de nossa área de 'advertising' para gerar um pacote consistente de entregas a nossos clientes e parceiros", também de maneira semelhante com esforços de rivais.
A rede afirma ainda que espera que com as ações "estará pronta para renovar seu papel de relevância no varejo brasileiro", apesar de o varejo nacional estar pressionado pelo crescimento de grupos internacionais como Shopee e Aliexpress em um ambiente de baixo crescimento e juros ainda elevados.
A Americanas terminou 2022 com dívida líquida de 26,3 bilhões de reais, crescimento de mais de 12 bilhões comparado com 2021, e patrimônio líquido negativo de 26,7 bilhões. Ainda assim, a companhia estima voltar a patrimônio líquido positivo até o final de 2025.
Segundo a companhia, a BDO RCS prestou serviços de auditoria externa do exercício de 2022 e reapresentação das informações comparativas de 2021. Antes da crise na empresa, a PwC prestava serviços para a Americanas.
A companhia realiza neste momento teleconferência sobre os números.