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Por Ana Mano e Tom Polansek
SÃO PAULO (Reuters) - A vasta e diversificada geografia do Brasil -- com a Amazônia ao norte, a Serra do Mar na costa Atlântica e os Andes a oeste -- podem ter ajudado o país a evitar um surto generalizado de gripe aviária em granjas comerciais, mantendo as aves migratórias longe das regiões produtores no interior, ao contrário do que houve nos Estados Unidos.
Quarta-feira marca mais de um mês sem um novo caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, encerrando um período de vazio sanitário após o primeiro surto do tipo em Montenegro, no Rio Grande do Sul. O aniversário da desinfecção traz esperança aos granjeiros de que não haverá repetição dos surtos persistentes como nos EUA, onde o vírus devastou a indústria local de ovos e desencadeou embargos comerciais duradouros.
Há dúvidas, no entanto, de que a geografia nacional possa oferecer proteção a longo prazo.
A gripe aviária se espalhou pelo mundo, chegando à Antártida pela primeira vez em 2024, ameaçando granjas avícolas, aves silvestres e mamíferos, incluindo vacas leiteiras dos Estados Unidos.
Em relação ao Brasil, a Cordilheira dos Andes pode atrasar a entrada de novas cepas virulentas por dois ou três anos, disse Alex Jahn, pesquisador do departamento de biologia integrativa da Universidade Estadual do Oregon.
Mas o país continuará sob o risco de surtos, já que as populações de aves silvestres, agora infectadas com o vírus, circulam mais amplamente. As aves sul-americanas podem migrar em todas as direções dependendo das chuvas, disse Jahn, ao contrário da migração sazonal norte-sul sobre os Estados Unidos.
As rotas migratórias sobre os EUA parecem ser os principais vetores de contágio entre aves silvestres e aves comerciais, disse John Clifford, ex-diretor veterinário do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
"Se você observar os padrões de aves aquáticas silvestres, essa provavelmente é a chave", disse Clifford. "Temos quatro rotas migratórias vindo pelos EUA."
Em contraste, a bacia amazônica atua como um filtro natural, mantendo as aves silvestres longe das granjas brasileiras, disse Guillermo Zavala, um consultor de saúde aviária nos EUA que trabalha na indústria avícola há mais de 30 anos.
As aves silvestres que espalham o vírus tendem a passar mais tempo em áreas de nidificação ao norte do Equador, disse ele.Masaio Ishizuka, epidemiologista sênior da Universidade de São Paulo (USP), disse que evidências sugerem que aves migratórias já infectaram espécies locais brasileiras, tornando o vírus da gripe aviária endêmico no maior exportador de frango do mundo, que responde por 39% do comércio global.
No mês passado, o primeiro surto no Brasil em uma granja comercial levou ao abate de cerca de 17 mil matrizes de frango.
Desde então, os frigoríficos BRF (BVMF:BRFS3)
O Brasil detectou 174 casos de gripe aviária de alta patogenicidade, ou gripe aviária, desde 2023, principalmente em aves aquáticas ao longo da costa, de acordo com dados do governo.
Os Estados Unidos confirmaram o vírus em cerca de 10 vezes mais criações comerciais e de fundo de quintal desde 2022, segundo o USDA. Cerca de 175 milhões de frangos, perus e outras aves dos Estados Unidos foram abatidos.
A China bloqueou produtos avícolas do Brasil e da maioria dos Estados americanos devido aos surtos, e outros países também restringiram as importações.
Rússia, Arábia Saudita e México impuseram embargos estaduais às exportações do Brasil, que se aplicam apenas a produtos do Rio Grande do Sul, onde ocorreu o único surto em granja comercial até hoje. Japão e Emirados Árabes Unidos estão entre os países com embargos menos rigorosos, e restringem apenas o comércio com a cidade de Montenegro.
MEDIDAS DE SEGURANÇA
O primeiro surto comercial no Brasil atingiu uma granja de matrizes, onde as regras de biossegurança devem ser mais rígidas do que em instalações onde os frangos são criados para corte, disse Felipe Sousa, professor assistente da Escola Superior de Agricultura da USP.
As medidas de segurança nas instalações de criação exigem que os trabalhadores tomem banho antes de entrar e usem uniformes e calçados limpos fornecidos pelos empregadores.
Os criadores brasileiros de frango também são obrigados a instalar cercas a 5 metros de distância dos galpões, e telas com 1 polegada, tanto ao redor dos paredes quanto na propriedade, para manter animais silvestres e outros invasores longe dos rebanhos comerciais, disse Sousa.
Muitas instalações americanas têm medidas semelhantes, exceto pelas regras de cercas e telas, disse Ashley Peterson, vice-presidente sênior do Conselho Nacional de Frangos dos EUA.As criações de frangos dos EUA são testadas para gripe aviária antes do abate, como parte de um programa de monitoramento, acrescentou ela.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e o governo não comentaram sobre os protocolos pré-abate.
Clifford, que trabalha com uma associação americana de exportação de aves, disse esperar mais surtos comerciais no Brasil com o vírus presente em aves aquáticas silvestres.
"Se eles tiverem apenas um, eu teria muita curiosidade sobre o programa de vigilância deles", disse ele. "Eles teriam muita sorte."
Recentemente, foram confirmados casos em espécies silvestres e criações de subsistência na região central do Brasil, mostrando que o vírus está se espalhando para o interior.
Em resposta, Marcelo Mota, diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, afirmou que o país implementará novas diretrizes de biossegurança para zoológicos, parques e áreas de conservação.
"Estaremos ocupados", disse ele.
(Reportagem de Ana Mano em São Paulo e Tom Polensek em Chicago; reportagem adicional Sybille de la Hamaide em Paris)