Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - Depois de dobrar de valor em 2019, a ação da Weg (SA:WEGE3) é um dos dois únicos papéis dos mais de 70 ativos do Ibovespa a mostrar valorização no acumulado dos primeiros meses de 2020, um período marcado por forte turbulência nos mercados acionários mundiais em razão do Covid-19.
Na bolsa desde 1971 e no índice desde 2016, a ação contabiliza até o momento alta de mais de 10% neste ano, tendo recuperado boa parte das perdas registradas em março. O Ibovespa, referência do mercado acionário brasileiro, registra uma queda de mais de 30%.
Após se aproximar de 50 reais no final de fevereiro, a cotação desabou para cerca de 25 reais em meados no mês passado, contaminada pelas fortes vendas nas bolsas com preocupações sobre os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. Desde então, sobe mais de 50%. O Ibovespa, cerca 20%. A outra ação do índice em alta em 2020 é a B2W (SA:BTOW3), do setor de varejo online, com elevação de 2,91% até a véspera
A resistência da fabricante de motores elétricos, tintas industriais e produtos de automação e controle industrial na bolsa paulista reflete a percepção positiva sobre a qualidade dos fundamentos do grupo de Santa Catarina, que hoje está presente em vários países, incluindo na China.
"Merece", resume o gestor Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, elencando uma série de fatores que ajuda a explicar a solidez do papel. "É líder, está em vários países, mais da metade da receita vem do exterior, possui produtos principalmente ligados a energia, eficiência energética, energia renovável, muita inovação e tecnologia, crescimento sustentável sem dívida de forma orgânica e via aquisições, além de muita governança."
Em 2019, a Weg alcançou um lucro líquido de 1,6 bilhão de reais, com crescimento da receita em todos os mercados que atua, além de expansão de margens. O caixa líquido da empresa no final do ano passado era de quase 1,28 bilhão de reais.
A companhia reportará os números do primeiro trimestre no em 29 de abril. Analistas, em média, esperam lucro líquido de 415 milhões de reais, bem acima dos 307 milhões registrados um ano antes. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) é esperada em 596 milhões de reais, superior aos 462 milhões apurados no primeiro trimestre de 2019, segundo dados da Refinitiv.
De acordo com o analista Lucas Marquiori, do BTG Pactual (SA:BPAC11), a Weg está em um grupo de empresas no setor de bens de capital com alavancagem bem controlada e forte posição de caixa. Ele não descarta, porém, efeitos em margens operacionais decorrentes de paralisações.
Na atualização mais recente da companhia sobre os efeitos do Covid-19, divulgada em 23 de março, a Weg reduziu temporariamente o número de funcionários presenciais por turno em 50% nas operações em Santa Catarina.
Para os analistas Victor Beyruti Guglielmi e Alejandro Ortiz, da Guide Investimentos, o fato da companhia não ter reduzido seu ritmo de investimentos durante a recente crise cria nesse momento uma vantagem competitiva em relação aos concorrente locais.
A forte valorização do dólar neste ano é outro componente que beneficia a Weg, com a moeda norte-americana já acumulando alta de mais de 30%. No ano passado, quase 60% da receita do grupo veio do mercado externo.
Para a analista Thais Cascello, do Itaú BBA, a empresa tem índices de líquidez sólidos que serão importantes para a companhia passar por esse cenário de incertezas; e mesmo que sofra com os efeitos de uma desaceleração econômica global, tem espaço para aumentar seu market share no mundo.
E, embora incertezas geradas pelo coronavírus tenham levado ao adiamento pelo Brasil de leilões para novos projetos de geração e transmissão de energia previstos para 2020, essas licitações levam tempo para se transformarem em encomendas junto a fornecedores, o que alivia impactos de curto prazo sobre a empresa.
A Weg, assim, ainda deve se beneficiar por algum período de pedidos decorrentes de licitações na área de energia realizadas no ano passado, que movimentaram volumes expressivos.
INOVAÇÃO
"Não podemos morrer fabricando apenas motores", afirmou Eggon João da Silva na volta de uma viagem à Europa no final da década de 1970. Ele é um dos fundadores e foi presidente da Weg até 1989. A primeira letra do seu nome e as iniciais dos outros fundadores Werner Voigt e Geraldo Werninghaus formam o nome da empresa.
A citação está no livro "Estruturar, condição para crescer", de Alidor Lueders, ex-executivo da companhia, quando ele relata a decisão de Eggon de diversificar os negócios da Weg para agregar valor aos produtos.
Mais de 40 anos depois e uma série de novos segmentos de atuação em seu portfólio, a Weg anunciou no final de março acordo com a fabricante de equipamentos médico-hospitalares Leistung para produzir respiradores artificiais, diante de perspectivas de explosão no número de pacientes graves de Covid-19 no Brasil.
A companhia utilizará a estrutura de suas fábricas em Jaraguá do Sul (SC) para produzir os respiradores.
"A empresa segue comprometida com inovações e reestruturação de novos negócios e parcerias e essa questão dos respiradores é um ótimo exemplo de visão da empresa", ressaltou o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos.
Chinchila reforça que a Weg tem ótimos fundamentos bem como caixa para atravessar a atual crise, e que investidores têm comprado as ações de olho na recuperação à médio prazo.
Na área de energia, por exemplo, a Weg expandiu a atuação nos anos recentes com a entrada na fabricação de turbinas eólicas e kits de geração de energia solar, vistos como alguns dos segmentos mais promissores da indústria no médio e longo prazo, dado o apetite de investidores por geração renovável.
A empresa também anunciou no início desse ano a aquisição de uma fábrica de transformadores em Betim (MG), ampliando sua capacidade de produção desses equipamentos em meio a uma demanda expressiva puxada pela licitação nos últimos anos de um volume recorde de projetos de transmissão de energia.
Ao comentar resultados da Weg em 2019, analistas da XP destacaram o desempenho dos negócios da empresa em energia solar e na área de transmissão e distribuição, pontuando também que ela "vem sequencialmente reforçando sua capacidade de gerar valor tanto via as aquisições quanto de forma orgânica".
Para Werner Roger, da Trígono, a valorização das ações da Weg neste ano é um "flight to quality". Ele já teve ações da Weg em seu portfólio, mas vendeu após alta de 100% dos papéis e agora busca ativos com perspectiva de valorização mais forte. Para o grupo nascido em Jaraguá do Sul, avalia um upside de "talvez uns 10%".
(Com reportagem adicional de Luciano Costa)