A pouco mais de duas semanas das eleições primárias na Argentina, os mercados argentinos tiveram mais um dia marcado por nervosismo nesta quinta-feira, 27. O dólar alcançou novo recorde histórico ante o peso argentino no câmbio paralelo, enquanto a bolsa de Buenos Aires amargou o tombo mais acentuado em cerca de quatro meses.
A falta de clareza sobre o programa de reestruturação da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) também agravou o pânico nas mesas de operações argentinas. No início da semana, o país anunciou uma série de medidas cambiais em um esforço para satisfazer as demandas do Fundo, mas até agora a flexibilização das metas do acordo não foi oficializada.
Nesse quadro, o chamado dólar blue - principal referência no câmbio paralelo - saltou sete pesos argentinos e fechou cotado a 553 pesos, no maior nível na história, de acordo com levantamento do jornal Clarín. Na renda variável, o índice Merval recuou 4,43%, a 450.210,59 pontos. As principais American Depositary Receipts (ADRs) argentinas negociadas em Nova York também tiveram forte queda, entre elas Banco BBVA (BME:BBVA) (-8,29%) e YPF (-6,82%).
A Argentina enfrenta um quadro de inflação anual acima de 100% e esgotamento de reservas internacionais, diante de uma seca que atingiu o norte no país no início do ano. Com esse pano de fundo, os eleitores irão às urnas em 13 de agosto nas chamadas primárias PASO, que definem as candidaturas dos partidos e acabam servindo de prévia para o pleito presidencial, marcado para outubro.
Segundo informaram múltiplos veículos da imprensa local, o Banco Central da Argentina (BCRA) adiou a divulgação de uma pesquisa mensal sobre inflação para 15 de agosto, uma terça-feira - normalmente, o levantamento costuma ser emitido na primeira sexta-feira de cada mês. O relatório do mês passado projetou uma inflação de 142,4% em 2023 como um todo.
A decisão levantou suspeitas de que o BCRA estaria agindo para beneficiar o governo de Alberto Fernández, que não concorre à reeleição, mas apoia a candidatura do seu ministro da Economia, Sergio Massa. "Adiar a publicação da Pesquisa de Expectativas de Mercado (REM) para depois da PASO é outro exemplo da eterna luta do kirchnerismo contra os dados e a realidade", criticou o ex-presidente do BC argentino, Guido Sandleris.