(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)
Por Alexandre Caverni
SÃO PAULO (Reuters) - As graves crises política e econômica que atingiram o Brasil continuam a se retroalimentar num interminável círculo vicioso, levando o país a um impasse que é preciso romper de algum modo se não quisermos comprometer mais do que este e o próximo ano.
Ainda que as duas crises estejam entrelaçadas de tal forma que muitas vezes fica difícil perceber o que está causando o quê e ainda que a economia ruim obviamente torne o ambiente político pior, parece razoável dizer que a crise política tem sido o maior impeditivo para o país sair do nó em que se meteu.
O problema é que nenhum dos dois lados do conflito político em curso parece ter força suficiente, pelo menos por ora, para resolver esse impasse forçando a outra parte a ceder.
O que ajuda a "equilibrar" o confronto e, portanto, reforçar o impasse, é que não se trata simplesmente de um embate entre governo e oposição. Teoricamente, considerando os partidos que oficialmente fazem parte do governo --isto é, que ocupam ministérios ou outros cargos relevantes na administração pública federal-- e da oposição, esse equilíbrio não existiria.
Talvez a forma mais simples de explicar os dois lados dessa "guerra política" seja dizer que em um deles estão os que querem tirar a presidente Dilma Rousseff do cargo --seja pela cassação de sua chapa, por um impeachment ou uma improvável renúncia-- e noutro aqueles que apoiam sua permanência, ou pelo menos se conformam com isso.
O equilíbrio surge porque no primeiro grupo há um crescente contingente de ex-governistas ou governistas insatisfeitos ou "flutuantes", que podem votar com o governo em alguns momentos, mas trabalham junto com a oposição para enfraquecer a presidente.
Não cabe aqui repetir os motivos da fraqueza política do governo, nem dizer quem está certo ou errado nessa história.
Se a oposição tem o direito de buscar o impeachment da presidente e dizer que ela deveria ter a grandeza de renunciar, Dilma pode pedir aos adversários menos política rasteira de curto prazo, porque não vai sobrar muito para governar se as coisas continuarem do jeito que estão.
Num ambiente repleto de inevitáveis analogias, poderia se dizer que a situação política brasileira a essa altura lembra um pouco o imobilismo da Primeira Guerra Mundial, quando as tropas se colocavam em longas trincheiras e, apesar de seguidos confrontos e milhares de mortes, não conseguiam avançar mais do que poucos quilômetros em períodos muito longos.
O governo não tem força política nem para estar seguro da manutenção de vetos de Dilma a matérias aprovadas irresponsavelmente pelo Congresso, muito menos para implementar um conjunto coerente de medidas para movimentar a economia.
Ao mesmo tempo, apesar de grandes manifestações populares, sem um motivo jurídico consistente para o impeachment, a oposição e agregados fazem contas e cálculos sobre em quanto tempo ou mesmo se conseguirão os 342 votos necessários na Câmara dos Deputados para afastar a presidente de suas funções e levá-la a julgamento pelo Senado.
Enquanto isso, a recuperação econômica que foi prometida em janeiro para o fim deste ano está adiada agora, com muita sorte, para o fim de 2016. E, se nada diferente do que se está fazendo for feito, isso só vai piorar.
Na Primeira Guerra Mundial, a entrada de um novo ator diretamente no palco do conflito, no caso os Estados Unidos, foi determinante para que se chegasse a seu fim, ainda que sem um claro vencedor, militarmente falando.
Mas esse fim só chegou depois que longos quatro anos de guerra deixaram milhões de mortos e mutilados e a economia da Europa em frangalhos.
Seguindo essa analogia não é fácil perceber quem poderia ser esse novo ator capaz de levar ao fim do impasse político, e por que não econômico, que o Brasil enfrenta neste momento.
Na falta de um novo ator, seria bom que os líderes políticos de todos os lados tivessem o mínimo de responsabilidade de pensar um pouco mais no país e menos nos seus próprios ganhos de curto prazo, em busca de uma saída para o atoleiro em que estamos todos metidos.
Seria melhor ainda que se chegasse aqui a um termo melhor do que na Europa há quase 100 anos. Afinal, duas décadas depois, o que aconteceu por lá fez parecer coisa pequena a guerra iniciada em 1914.
* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.