SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil tem condições de isentar suas exportações de aços semiacabados para os Estados Unidos e os preços da liga no mercado internacional ainda não foram pressionados pela decisão do governo norte-americano de proteção à sua indústria doméstica, afirmou nesta terça-feira o presidente da associação de distribuidores de aços planos, Inda, Carlos Loureiro.
Tarifas de importação de 25 por cento sobre aço e de 10 por cento sobre alumínio devem entrar em vigor nos EUA nesta semana. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA e tem sustentado que 80 por cento de seus embarques para o país são de material semiacabado, que abastecem usinas de laminação norte-americanas.
"O Brasil tem possibilidade de conseguir (isenção), porque os próprios (consumidores) norte-americanos estão demandando isso", disse Loureiro.
Segundo ele, os EUA podem levar algum tempo para conseguirem suprir a deficiência de placas que abastecem suas usinas de laminação, com um alto forno levando pelo menos um ano para ser construído. Enquanto isso, o preço do aço nos EUA já subiu cerca de 200 dólares no primeiro bimestre, afirmou Loureiro citando dados do mercado internacional de aço.
"Isso (tarifas de importação dos EUA) ainda é um assunto cujas consequências estão nas hipóteses, mas se colocarmos um pouco de lógica, não vai afetar as exportações do Brasil...não existe disponibilidade de placa nos EUA, essa medida do Trump não tem lógica, isso penaliza todos os usuários de aço dos EUA", disse Loureiro.
Ele citou que o preço médio da tonelada de aço laminado a quente nos EUA até semana passada estava em 894 dólares, avançando 100 dólares em um mês. Enquanto isso, o preço médio no mundo teve avanço de 35 dólares, para 630 dólares.
O mercado temia que os preços do aço no mercado internacional seriam pressionados por um excesso de material que antes era destinado aos EUA, e por consequência os preços no Brasil também seriam atingidos.
Na avaliação de Loureiro, o que vai ditar se haverá crescimento das importações de aço no Brasil "é a política de preço das usinas siderúrgicas junto com eventual queda dos preços internacionais, que não caíram até agora".
"O que existe hoje é uma certa tentativa de mostrar que o Brasil precisa ser mais protegido em função dessa eventual avalanche de aço, mas a curto prazo não vejo nada acontecendo que justifique uma queda nos preços no mercado interno", disse o presidente do Inda.
Segundo os dados da entidade, no primeiro bimestre, as importações da maior parte das categorias de produtos siderúrgicos caiu no Brasil sobre um ano antes. A redução de fevereiro ante janeiro foi de 48,5 por cento, enquanto sobre um ano antes houve alta de apenas 2,4 por cento, para 60,8 mil toneladas.
A penetração das importações sobre o total vendido no primeiro bimestre foi de 11,3 por cento, sendo que em fevereiro apenas foi de 7,9 por cento, disse Loureiro, acrescentando que "isso é muito baixo em relação ao que tínhamos no passado".
"Importação não é mistério. Você importa porque está mais barato ou porque não tem produto no país", disse Loureiro, afirmando que atualmente a diferença de preços da bobina a quente no Brasil e no mercado externo está em 2 a 3 por cento.
As vendas de aços planos por distribuidores do Brasil em fevereiro subiram 20,6 por cento sobre um ano antes, para quase 260 mil toneladas, nível que surpreendeu as estimativas do Inda, disse Loureiro e que fez analistas do Bradesco (SA:BBDC4) e do Itaú BBA manterem previsões de crescimento de cerca de 10 por cento nas vendas do material no país este ano.
Loureiro afirmou ainda que as vendas por dia útil foram de 13,7 mil toneladas em fevereiro, acima do registrado em janeiro que teve um maior período de comercialização que o mês passado. Ele projetou que se as estimativas do Inda se confirmarem para março, de crescimento de cerca de 9 por cento nas vendas, as vendas de aços planos no primeiro trimestre deverão subir 16 por cento sobre o mesmo período de 2017.
"Apesar das vendas dos distribuidores de aços planos terem sido fracas em 2017 como um todo, em parte por causa da política de ganho de participação das usinas com vendas diretas aos clientes industriais, os fortes dados dos últimos dois meses são encorajadores", escreveu o analista Thiago Lofiego, do Bradesco BBI.
(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Paula Arend Laier)